quinta-feira, 26 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A ignorância acompanha


"Ignorante, palavra derivada de gnose, não saber", como dizia meu professor de Literatura Portuguesa I, nas aulas matutinas de início de faculdade, numa voz fina e inconstante. Na época, disputávamos na faculdade as melhores imitações daquele tipo caricato... e aquelas manhãs ficaram gravadas em minha mente e a explicação eu absorvi, de tanto imitar.

Quando fui sozinha para Bordeaux, todos me falavam que eu era muito corajosa... mas não foi exatamente a coragem minha motivação. O meu conflito é a curiosidade. O dia em que entrei em tantos aviões e fiz escala em tantos aeroportos para chegar naquela cidadezinha francesa, para passar cinco meses, não sabia em suma o que me esperava... fui sem pensar no que encontraria e o problema da imaturidade é justamente não saber, voltei, em um mês. Isso foi tão problemático que ainda não avalio com precisão o total desta conta na minha personalidade, no meu presente, no meu passado e no meu futuro. O fato é que um dia saiu uma Lílian da cidade de Goiânia e ela se perdeu em banheiros, aeroportos, aviões e caminhadas sozinhas e intermináveis durante 25 dias. O pior continua sendo a dúvida, quanto de mim tinha de ser assim e quanto de mim deveria ser mais se eu tivesse ido até o fim?

O que me felicita é que com certeza eu não podia e não quereria ser a mesma de dezembro de 2008, sou feliz com a que chegou aqui.

A vida é feita em ciclos tão intermináveis, tão recorrentes... sempre me vejo exposta a frase "Você é corajosa" e sempre lembro do meu professor Rogério.

Entrei no estúdio do Jander pra fazer uma tatuagem, que para uma pocket como eu, é gigante! E todo mundo me falava e fala: "Nossa, como você é corajosa"... desta vez eu tinha consciência da minha ignorância. Bem, não posso ter medo do desconhecido e como não conhecia a dor de uma agulha rasgando toda minha pele, mergulhei de ponta. Mas uma tattoo que se inicia, se termina e meeeeu Deus!!! Nunca sofri tanto e nunca senti tanta dor na vida, uma dor incomum!! Estou aqui tendo uma filha! Desta vez saberei exatamente o tanto que devo ser.

Certa vez um velho amigo me disse que se um gato pensar, ele não faz suas grandes proezas, não pula suas grandes alturas, não cai sempre de pé. Então!

terça-feira, 10 de maio de 2011

"Precisar de dominar os outros é precisar dos outros" - Fernando Pessoa.



"Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho.  
Outros não têm na vida nenhum sonho, 
e faltam a esse também" - Fernando Pessoa.

Realmente me revolto quando ouço estrangeiros falarem que o Brasil é perigoso e recomendarem aos turistas que possam vir aqui, que escondam bem seu dinheiro e tomem muito cuidado com assaltos, porque aqui não é seguro como o país deles. Sim, o Brasil não é um reduto de paz e calmaria como Graz, na Áustria, mas a verdade é que, muitas vezes, imagino que os americanos e os europeus devam estar tão gordos que não consigam olhar para seus próprios umbigos:

Como passei medo nas ruas de Paris, como precisei me precaver para não ser assaltada em vários pontos turísticos ou para (simplesmente) conseguir manter as mãos fechadas para qualquer coisa que fortes e grandes franceses na porta da Sacré le Coeur tentavam colocar em minhas palmas e como estive assustada em Roma, com todos aqueles ragazzos maltrapilhos agrupados em esquinas, nas ruas mal iluminadas, nestas últimas férias. 

E em Bordeaux, inclusive, logo no dia que cheguei naquele intercâmbio, que depois resolvi abortar, em 2009, ainda meio zonza pela novidade que encarara sozinha, precisei me atentar a um homem que enfiou seu número de telefone no meu bolso, no ponto do "tram way". Precisei me adaptar a um quarto na casa de um maconheiro que não trabalhava, apenas recebia rápidas visitas que pegavam qualquer coisa e iam embora, óbvio não me adaptei e fui para a casa dos estudantes, necessitei não me tornar histérica quando um rapaz europeu resolveu me olhar por de baixo do boxe do banheiro coletivo que usávamos no prédio de estudantes, ou quando outro gritava, andando de toalha (à 3º C) pelo corredor de um andar com 80 quartos. E, por fim, para fechar com chave de ouro, tive de fugir de um árabe que teve na telha de me seguir descaradamente, quando, então, resolvi ligar para meu pai e pedir penico!

A questão é, então porque viajei para lá de novo e porque viajarei quantas vezes for? Primeiro, porque tenho ideias bem cosmopolitas, mais que um problema nacional, a segurança é um problema mundial! Segundo, porque a Europa é berço cultural e histórico dos americanos e claro, sou curiosa, mais do que ter, quero saber.

Apesar também de todos estes problemas, poderia além de um texto, dedicar-me a um blog que falasse sobre todas as boas aventuras e as grandes felicidades e novas sensações que vivenciei no outro continente! O que não suporto é ler textos que exaltam os problemas brasileiros e latinos sem critério, comparativo por exemplo. E pior de tudo é ouvir europeias, como essas tchecas que vieram para "zuar" no Brasil, dizerem em plena Paulista, para a "jornalista" Sabrina Sato, que não tinham dinheiro, porque seus amigos europeus recomendaram que não andassem pelas nossas ruas com notas!

O mais irônico de tudo, é que imagino que a maior parte dos mochileiros que viajam para outro país, voltam admirando mais o seu (e não importam os motivos), mas ao regressarem, escutam de todos aqueles que não foram (ou foram em grande luxo) a mesma conversa de como o Brasil é uma porcaria. Foi numa dessas que comentei com minha bèlle-mere (pois me recuso a chamar a Lu de madrasta): "A única coisa que quero ouvir é elogios ao meu país e todos me chegam para falar mal dele, pedir a opinião comparada de como lá fora é melhor", não é!

A verdade, meus caros, é que, se viajo, volto forte para melhorar meu país... e não li e reli este texto para analisar o quanto de senso-comum patriótico tenho, o quanto de contraditória tenho entre o sentimento de querer um mundo mais cosmopolita e ao mesmo tempo de nação mais nacionalista; mas com o que já experienciei, penso que seria melhor que abandonássemos esse sentimento de inferioridade, que recolhêssemos dos mais velhos apenas o que há de bom, para melhorarmos o daqui e também que deixássemos, no mínimo, o senso-comum adolescente e ignorante de odiar o que temos, não sejamos extremistas, o meio-termo, na maioria das vezes, é o caminho.

Sempre que viajo, volto respirando ainda mais brasileira e isto foi é questão de maturidade.

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ESPN americana chama Copa - 2014 e Rio - 2016 de 'Jogos Mortais'


(Não quero que fechemos nossos olhos para nossos problemas, muito pelo contrário, mas avacalhar não, né? Jogos Mortais!!??)