quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Urina ou xixi?

Essas eleições acabaram e, ao contrário da maioria postante dos meus amigos, eu não tenho respostas e nem argumentos e antes que eu receba algum comentário me chamando de alienada: talvez eu seja mesmo, porque hoje, eu simplesmente não estou entendo o que passa. Na verdade, e eu não sei se isso é verdade, fiz parte daqueles 38 milhões de eleitores, que representam um número maior que o de eleitores do estado de São Paulo, que não foram votar. Vejam bem: eu disse NÃO FORAM VOTAR e não que votei nulo.

Nestas eleições eu simplesmente não compareci à zona eleitoral, aliás, este nome nunca coube tão bem ao momento! Não fui e me senti realizada por isso, sei inclusive que irei responder a essa responsabilidade a qual me abdiquei. Mas comprei essa multa de 3 reais por motivos muito básicos: nenhum dos candidatos que me apresentaram me representa. Não concordo com a política de nenhum deles, todos eles me enojam, cada um por determinadas características, e não seria o fato de eu querer mudanças políticas no meu país, que faria eu acreditar que esta mudança POSITIVA seria Aécio, também não acreditei que a Dilma (uma presidente que se intitula presidenta), testa de ferro do PT e de um grupo que comanda o Brasil faça um bom trabalho, faz o mínimo dentro das obrigações e deixa um outro tanto gigantesco a desejar.

A nível estadual, me deram duas opções ridículas, a qual me recusei mais ainda a votar: Íris ou Marconi. Li no facebook de um amigo: “Marconi, nunca te perdoarei por me fazer votar em Íris”. Tínhamos a opção de um coronel  novo e antigo e um coronel babão velho gagá. Um sucateia nossos institutos educacionais, o outro não pagava nem seus funcionários públicos em dia. E como este desabafo não é uma lista de todos os problemas de cada um dos candidatos, não irei enumerar aqui o quanto cada um destes 4 políticos é um tapa na minha cara.

Na mesa de almoço do restaurante em família, enquanto éramos diariamente obrigados a assistir horário político (Se fosse em casa a televisão estaria desligada), a vontade que eu tinha era a de comer e ir diretamente para um tatuador, tatuar BURRONA em letras garrafais na minha testa, porque é o mínimo que esse sistema governamental que seguimos deve pensar de nós.

Apesar de todo esse período revoltante, eu fui atrás de textos da Terra, da Uol, da Folha de São Paulo, Caros Amigos, a Veja não, realmente não! Eu li tudo que me apareceu e pareceu minimamente respeitável. Vai um agradecimento aqui a todos meus amigos que postaram tanto sobre seus candidatos, acreditem, estava lá eu, tentando formar uma opinião. Questionei meus amigos, meu pai, meus irmãos e toda e qualquer pessoa que eu pensasse que tivesse um ponto de vista mais crítico. Encontrei gente a favor de Aécio e gente a favor de Dilma, encontrei também gente como eu: confusa.

Por fim, sempre me restava uma pergunta interna que vem crescendo cada vez mais com essa ressaca virtual política: Será que essas pessoas não percebem que os candidatos todos tem pontos que motivariam um voto, mas todos estão afundados numa lama corrupta? Será que as pessoas que tanto defenderam PSDB ou PT não se deram conta que os dois são dois porqueiras!? Que estávamos optando pelo cocô e as fezes?

Daí que concluí, por meio de tantas respostas que recebi, faladas e escritas, que o voto é um mecanismo de transformar toda essa palhaçada política que vivemos em algo legalizado. A Dilma foi eleita, o Marconi foi eleito e eles não representam uma galera, pior: Eles vão continuar fazendo o serviço torto deles, maaaas eles foram eleitos, o povo votou, elegeu, legalizou, os colocou lá mais uma vez. E se tivéssemos tirado, seriam Aécio e Íris? Eu sinceramente não sei o que é pior! Ainda não sei, mas agora eles já estão lá e eu ainda estou confusa.

Estou confusa porque o brasileiro vota por índices de pesquisas que pudemos perceber não correspondem ao que acontece na vida prática, o brasileiro vota naquele que tem mais que 30% de possibilidades e eu odeio essa frase “O brasileiro...”, mas sobre isso eu não sei como funciona lá fora. Eu sei é que aqui é que sou OBRIGADA por lei a me dirigir a uma urna eletrônica e escolher entre a titica de galinha e o estrume do cavalo para fazer valer a democracia (Oi?).

Estávamos na piscina em Caldas Novas no dia da eleição e um pai comentou do meu lado pro seu filho:

- Temos que ir embora, vai se secar.
-  Mas por que tão cedo, papai? – O menino tinha uns 7 anos.
- Por que eu tenho que ir votar.
- Mas você é obrigado a votar?
- É... é isso.
- Mas por quê?
- Por que é lei, vai logo.
- Tá... Mas você não acha isso estranho?
- Anda logo, menino, para de perguntar!

Eu e meu namorado (Sim, o mundo perdeu uma solteira convicta) rimos. As pessoas deixam de questionar o óbvio. Mas eu questionei isso aí, e obrigados mesmo não somos, temos que pagar uma multa, nos deslocar um pouquinho algum dia, mas ninguém foi lá me tirar da piscina em Caldas, amarrada, e me levou até minha zona (Adoro!). Eu não fui votar nesta eleição e me senti livre, senti que não agredi meus princípios. Porém algumas coisas me agrediram:

- Me agrediu o comportamento agressivo e elitista, enrolado num véu de alternância de poder e intelectualismo, de gente do meu convívio ou não. E sinceramente, torci para que Aécio perdesse por conta desse pessoal, exclusivamente, que fala com quem não era a favor dele, como se fosse ignorante, que agride verbalmente e ameaça o futuro do outro com frases de “Esse povo merece, quero só ver agora”. E olhe que eu estava à procura de gnose (Saudades, professor Rogério de literatura portuguesa que sempre explicava o sentido de ignorância, o ato de não saber).
- Me agrediu a charlatanice da Dilma.
- Sempre me agride a baba do Íris e o olhinhos de cobra do Marcone.
- Me agrediu a apresentação de todos esses políticos como se fossem anjos cheios de bons princípios acusando o adversário capeta dos infernos da corrupção, como se todos não soubéssemos publicamente algum escândalo político deles.
- Me agrediu planos de governo mirabolantes, assim como resultados maravilhosos que não vi, daqueles que estavam tentando se reeleger.
- Me agrediu gente que ia votar no Aécio, mas estava votando em Íris (WTF!?), ou a dupla DilMarcone.

Apesar de tudo, achei bonito a forma como meus amigos petistas demonstraram seus pontos de vista, mesmo que eu tenha achado, vez ou outra, daquelas paixões canalhas cegas. Enfim, quando o Chris me perguntou quem eu preferia, no domingo, eu respondi: Prefiro o apocalipse zumbi. – Porque, pelamordedeus, gente! Será possível que vocês acham que íamos mudar pra melhor? Ou será possível que vocês acham que esse governo é bom!??

Eu prefiro uma reforma política, eu prefiro um novo sistema, eu prefiro não ir a esta festa da democracia mentirosa, eu prefiro continuar trabalhando, eu prefiro que abram logo um concurso público pra educação, pois desde que eu formei, meu estado não fez NENHUM pra Letras em Goiânia (4 anos), eu prefiro ganhar bem sendo professora, eu prefiro ser atendida por médicos brasileiros que cumprem horário corretamente como qualquer outro funcionário no Brasil inteiro, eu prefiro não pagar plano médico e ter um sistema de saúde de qualidade pra mim, que serei atendida, e pro médico que tem que atender, eu prefiro que todos trabalhemos com qualidade, eu prefiro não ser assaltada em qualquer esquina, eu prefiro não ter medo da própria polícia do meu país, eu prefiro um sistema de transporte urbano público como o que vi na Áustria, eu prefiro não ficar sem água ou energia.

Eu só não prefiro esse desgoverno. Eu prefiro que as pessoas questionem o óbvio.