terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nossos baobás


Esta manhã eu não acordei leve. As coisas ficaram meio pesadas. Tem um pouco de bagunça no meu quarto. Ainda tem um pouco que sobrou de ontem, quando eu tentei arrumar tudo e não deu tempo. Não deu tempo... eu quis ver a novela... eu quis desenhar... eu tinha que desenhar uns rabiscos e eu precisei corrigir mais umas provas. Aí sobrou uma desordem escondida no guarda-roupas, uns textos mal colocados nas prateleiras e uns livros fora da decoração. Mas como hoje as coisas acordaram pesadas e eu gosto de viver levemente, então eu resolvi que vou fazer daquelas limpezas conscienciosas e colocar as coisas nos seus devidos lugares... terminar os excessos.

Essa é a história da menina que muda. E gente!? Ela muda todo dia. É insuportável. Ela não acha fácil e ela não gosta disso. Mas acontece, fazer o quê?! Tem dia que ela acorda assim, as vezes pelo que aconteceu na noite passada e ela simplesmente levantou e mudou de novo. É um saco. Ninguém aguenta mudar tanto assim. Mas ela também sabe que nem é tão drástica. É mais dramática. E é uma farsa também. Finge racional, mas chora com o jornal. Chora com a novela. Molha os cílios com simples hipóteses, derrama água de rir, de emocionar, de ver o sol... ou a lua também, é que ela é (como diz Carpinejar) macia.

E ela não quer sofrer. Ela odeia sofrer. Contudo, ela sabe que o sofrimento é uma fórmula matemática. Que ela já sofreu umas vezes com brigadeiro, cama e livros e que vai sofrer mais algumas tantas vezes. Mas a corrida dela para que não se debulhe em lágrimas ruins lhe tira o fôlego às vezes, aí ela precisa chorar; e ouvir músicas nostálgicas também.

"Saudade de quando meu maior problema era resolver a tabuada", ela leu no Facebook, pois eu vou confessar: Eu tinha pavor de tabuada, eu não sabia resolver ela, eu não tinha ela de cor, meu pai me trancava no quarto pra memorizá-la e eu quase me mijava de medo na prova. Eu não tenho saudade desse tempo. Eu não sinto falta desse tipo de problema. Inclusive porque, sim, meus conflitos hoje são muito mais complexos, mas eu consigo resolvê-los com muito mais desenvoltura e com muito menos taquicardia.

Às vezes a gente vai ficando porque não está fazendo nada e não percebe que podia estar indo melhor com esse tempo vago. Às vezes a gente não percebe que está perdendo tempo. Às vezes a gente percebe. 

É necessário se dar conta da responsabilidade que temos conosco. Não é amoroso deixar que aconteçam por você. Quem se ama mantém a casa em ordem, vive o agora, mas programa as limpezas diárias. Não é justo com a gente fazer procurar o essencial no meio do lixo, cada anel errado, lápis trocado, borracha sumida, é mais em nós um segundo a menos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Velhos novos ventos



Como é difícil ser unilateral. Como é complicado manter apenas uma opinião. Ser uma coisa só. Classificar cada um dos sentimentos mais abstratos que me passam e recortam, cortam em pedacinhos cada ponto da minha massa firme, invólucro material de toda minha essência que é espiritual. Quando tento classificar meus sentimentos, racionalizar minhas vontades, entender o que eu quero e o que me afeta, a conclusão é sempre a mesma: "Relaxa, Lili, não tem jeito".

Sim, a voz que fala comigo me chama de Lili. A voz boa, claro. Aquela que gosta de mim. Que me orienta bem, que canta pra mim. E ela sempre diz: "Lili, vai dar tudo certo"... "Lili, não é assim"... "Lili, não tenta"... "Não é assim"... "É muita simploriedade explicar a mente. A gente nasceu pra sentir, não pra classificar reações"... "Vai que é desse jeito". O vínculo da mediunidade e da vontade real. Aquela deusinha interior que em parte sou eu, em parte é outro e que voa dentro de mim, plana no vento, dizendo: "Vamos por partes".

Esses dias eu tinha um conjunto de cabelos que chegava na minha cintura e esse conjunto alimentava cada ponta de energia dupla, desbotada e morta que tentava viver seca em mim. Sugava toda brisa insistente em arrepiar a nuca minha. Ai eu cortei esse mal não pela raiz, mas na sua parte em decomposição. E, meu amor, como é bom cortar o excesso. Sem peso a me puxar as ideias, tudo aquilo que joguei fora abriu espaço. Eu nasci mesmo para cabelos pequenos. Eu sou mesmo toda pequena, é que pequeno dá pra trabalhar melhor, mais bonitinho e com mais detalhes.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Poeticamente farsante


Esse meu poder de fingir que racionalizo
A força que estabelece uma linha tênue entre o que sinto e faço e o que concluo
O que eu quero e o que meu corpo pede
A luta que arde eterna entre o que sou e o que preciso
O estigma de todos os movimentos nos quais me desenrolo
De tudo aquilo que provoco
E do que acontece porque as coisas acontecem em cadeia
O brilho opaco dos fatos encarnados.

Eu gosto dessa minha forma leve
Gosto de me pertencer
De não ser cárcere alheio
E de ter tudo, quando conto pro mundo que há qualquer necessidade.

O gosto amargo do tempo seco escorreu mais uma vez pela boca minha
O calor porém é sempre úmido e doce

A hora da estrela é a morte

Sei um modo de morrer diariamente

A forma como serpenteio.

Há qualquer coisa de ambíguo neste conteúdo corpóreo que aprisiona todo poder mental que vibra em meus olhos e no respiro de minha pele. E eu que não sei de nada, minto sinto que faço poesia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Poesia da coletividade



Olha para o lado e enxerga a poesia dos dias que passam.
Repara o espelho e percebe os traços que se modificam.
Avista o horizonte e observa os prédios que surgem.
Sorri com os olhos.


Seus anos
Sua pele
Seus caminhos
Seu eco.

E nas suas estradas sempre por um curto tempo as mesmas canções
E nos seus pensamentos sempre por um curto tempo os mesmos conflitos
E na sua vida sempre por um curto tempo tudo passa vagarosamente ligeiro

Respira poesia, vive em prosa e atua de ser-humano. 
A ampulheta coletiva de todos nós.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Meus estágios.


Quero para este mundo um universo tão encantador quanto o que cresce em mim. Não este universo que aparento. Aquele universo que escondo por dentro, que já veio escondido. Aquele mundo paralelo que contemplo quando fecho os olhos. Aquele que tampo a visão para enxergar com claridade, o olhar da alma. Aquele que prova que sentir é espiritual. Aquele que observa que tanto beleza quanto intelecto são aparência. Aquele que doa o pão. Aquele que nada doa, porque "A mim nada pertence". Aquele que vê a todos como irmão. Aquele que passeia na rua e observa apenas o familiar, porque somos todos fraternos.

Desejo a ti a poesia dos belos dias, a calma do domingo, a ansiedade do sábado, o conforto da sexta-feira à noite. Desejo a você que não me conhece, que me conheça. E desejo a nós que nos conhecemos, que conheçamos mais o alheio, que entendamos o outro.

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo". Tenho para mim, para nós, para você, todos os grandiosos ideais que nos pedem nossos mestres... Tenho a fé dos novos dias, a força renovada, tenho a alegria das manhãs de sol, o mais manhã possível, daquelas que nem sempre vemos, porque nem sempre acordamos, peço para nós o cansaço do trabalho bem feito, a realização de ser eficiente, o agito da vida coletiva, os planos para o futuro, a rapidez do presente.

Te quero dias de sono, dias de ócio, dias de melancolia lírica, manhãs nubladas e preguiçosas, a paz da individualidade, a nostalgia do passado, te quero o cheiro que lembra a infância, o sabor que recorda a um tempo, as percepções táteis, te quero as sensações emotivas... O encanto que há na dualidade, te quero o feitiço da verdade que habita os contrários.

E porque não tenho nada, porque nada que tenho, possuo... porque devo ser útil aquilo que digo "Me pertence"... porque ao contabilizar estrelas, o ápice é guardar os números engavetados, lhe desejo, meu irmão, uma vida de amadurecimento. Uma vida livre e encantadora para cada meu irmão.




segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tinha uma nota no meio do caminho.


"E ai, Lili? Você tem namorado? Não. Noossa! Como assim? Mas faz pouco tempo que você não namora, né? Não. Mas você quer arrumar um namorado, claro!? Não. Como assim? Nossa, isso é mágoa, viu?! Você gosta do seu ex ainda? Não, não e não. Mas sua vida tá boa? Ahhh! Isso sim. Está ótima, está linda". (Sorriso de educação).
                                                             
Incrível como é uma obrigação ter um namoro. Incrível como a ordem dos fatores se deturpou, gostar para namorar pra quê? O importante é ter um pedação de carne pra dormir de conchinha e levar nos eventos sociais e olhe lá, se pá, você ainda pode vir a amá-lo. As pessoas não entendem mais que se você está solteira, não significa que esteja disponível e não entendem que você possa estar querendo simplesmente viver os seus projetos e que na sua vida namorar não é um projeto.

Será mesmo que essa percepção de que namoro não se procura é de tão difícil discernimento? Será que só eu penso que a formulinha é: olha, eu vou vivendo minha vida aqui, legal, vou fazendo minhas amizades, vou trabalhando, vou sei lá, fazer uma pós, um mestrado e um doutorado depois, vou colocar como objetivo principal viajar bastante... hum... mudar de cidade... ler meus livros, ver meus filmes, meditar na minha igreja, comprar minhas roupas... e se por um acaso, a-ca-so, eu encontrar nessa trajetória alguém que eu goste, alguém que se afine comigo e estivermos no mesmo tempo e espaço, ai sim, meu bem, eu vou querer alguém pra eu chamar de bem. Se não, não e que ótimo.

É engraçado. Encontrar algo que não estou procurando. Você está saindo do shopping, indo pra casa e no meio do caminho, ao invés de uma pedra, uma nota de 20, o rumo é a sua humilde residência (gorfo musical), mas por destino, percepção, sorte sua, azar do outro, ela está lá, linda e amarela pra você. Mas ela não é sua, você sabe que ela não tem dono, você fica com ela, pega esse carma pra você, entra em felicidade total, conta pra todo mundo e vai ser livre e pelo amor de Deus, deixa ela ser também, vão se gastar. Cara, dinheiro encontrado na rua é a reificação do namoro.

No meu padrão social a regra não é formar, trabalhar, namorar, casar, ter filhos. A minha regra social é ser espontânea e juro, eu achava que as pessoas normais eram assim. "Nossa, mas uma menina tão bonita, trabalhadora, que gosta de viajar, com tantos planos, não pensa em namorar, ter filhos?","É, por isso mesmo, se você tem o que fazer, você não fica pensando idiotice".

Eu também desconfio de quem pula de relacionamento em relacionamento. Eu desconfio de quem volta com ex, eu desconfio de quem não se basta. E olhe, eu já fiz tudo isso e asseguro, eu não estava lá sendo a pessoa mais corajosa nem do andar do meu prédio nessas épocas, a gente tem medo das turbulências (e ai resolve assinar o atestado de covardia, retroceder sem nem conhecer o que nos espera), mas depois que elas passam, viver consigo se torna lindo e numa outra possibilidade, viver com o outro passa a ser pelo que ele é, não pelo que a gente precisa. Sempre existirão novas perspectivas, é preciso lembrar.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Área de serviço



Compensa a falta de personalidade com as etiquetas.
Etiqueta: Marca de. De roupa, de diploma, de peitos, de tanquinhos.

A minha mãe não carrega nenhuma delas e é a mulher mais interessante que já conheci. A minha mãe é a mulher que me deu a liberdade, inclusive, de aprender sozinha a respeitá-la e a orgulhar-me dela. É a mulher que teve sua primeira filha com 35 anos e seu último com 42. É a mulher que viveu em orfanato, que criou os irmãos, que perdeu a vida trabalhando na casa dos parentes, que se virou pra sair inteira sempre. É a mulher que tirou a mãe de uma colônia isolada de tratamento de leprosos quando todos queriam distância desse “tipo de pessoa” e ainda faz bolo prestígio, sopa quentinha e usa Herbalife.

Não tem, nunca teve, roupas de marca, não tem diploma, não é magra. Não necessita compensar, ela é o peso todo. Seus títulos carrega no espírito. Mamãe, eu quero uma foto é na praia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Minha mente



- Lili, tenho duas notícias, uma boa e uma má. Qual você quer primeiro?
- A boa, sempre.

Felicidade para encarar a realidade.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Com quem será?


Balanço de aniversário: Há uma semana venho ganhando chocolates, ou seja, engordamento na véspera pelos alunos, engordamento no dia e engordamento ever forever até acabar com tudo... bom que ganhei muitos cremes, a massa adiposa aqui vai aumentar consideravelmente.

Balanço de aniversário: Depois de um tempo você começa a ganhar muitos presentes de cuidado com o corpo e segunda eu volto pra academia.

Balanço de aniversário: Seus irmãos estão tornando-se homens, novas crianças na família, seus pais (mamis, belle-mère e papis) estão mais lindos e mais interessantes ainda e suas irmãs continuam te ajudando com a velinha...

Balanço de aniversário: Depois de um tempo, seus amigos são mais amigos e você passa a falar "Vem na tia pra tirar fotos, meu bem" para os filhos deles, que já formam a ala infantil da festa.

Balanço de aniversário: Hora do bolo provocando terror desde o seu 1 ano de idade.

Balanço de aniversário: Numa conversa entre amigos sobre a época da faculdade, um amigo fala "E você só tinha 17 anos, né, Lili?"... e eu me dou conta de que sou a mais nova da turma, oh yes! U.U

Balanço de aniversário: Seus amigos estão muito felizes por estarem na festa de aniversário de uma amiga e não apadrinhando um casamento ou batizado.

Balanço de aniversário: É muito bom quando você está fazendo idade ao mesmo tempo em que consegue ir se formando nas etapas e no tempo certo e tomou consciência disso, porque já passou pelo contrário.

Balanço de aniversário: As conversas mudaram, a história agora é o trabalho e as recordações da faculdade.

Balanço de aniversário: Alguns amigos e familiares faltaram por causa da distância, dos concursos, dos filhos, da dor de barriga e da ressaca do outro dia ou por tudo isso, mas tudo bem, você os ama mesmo assim e ainda aceita os presentes.

Balanço de aniversário: Já foram tantas comemorações com os mesmos amigos, que seus amigos começam a ficar felizes de encontrar aqueles amigos que só encontram na sua casa.

Balanço de aniversário: Não tem lamúria de "não consegui dar atenção pra ninguém" quando você não chamou colegas e sim irmãos de vida e família.

Balanço de aniversário: Você dá tchal para os últimos amigos que foram embora, pensa: "que existência completa" e se dá conta que sua felicidade não é um status estado e sim uma verdade, muito bem compartilhada por sinal.

Balanço de aniversário: Tudo é bom quando se está bem. Adoro idade ímpar.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Nikk - O inglesinho do Brasil.

                                 

De dias tão corridos, me marcou a seguinte frase que ouvi no domingo: "Mantenha sempre o espírito infantil" - "Opaaa! Isso é fácil" e também, não sei porque, criança sempre dá um jeito de grudar em mim.

Então depois de uma noite sem dormir desde às cinco do dia anterior, revirada dentro de um micro-ônibus e voltando do trabalho às  quatro da tarde com um sol de fritar ovo no asfalto, materiais de aula na mão, dedoches, boneca, um frango morto congelado (sim!) que a esposa do avô mandou pra mamis, dou de cara com a porta de casa e a chave roubada da minha bolsa pelo irmão, o que me fazia prever a escada até que alguém aparecesse. 

Procurei então o celular na bolsa, lembrei que o tinha esquecido na cama. Respirei fundo, me lembrei: "Conservar sempre o sentimento natural, espírito infantil, espírito infantil...", juntei todas as minhas coisas e avante orelhão, não lembrava o telefone de ninguém, meu pai fez o favor de deixar o celular dele submergir em águas cristalinas de novo (dessa vez não foi no vaso pelo menos), os irmãos estavam todos no campus da Federal, ou seja, aonde judas perdeu as pernas e eu em frente ao meu prédio, sem a chave da porta, com uma galinha morta e quase descongelada, um bauzinho, uma boneca laranja que ganhei, livros e redações nos braços. 

Olhei para aquilo tudo com tanta vontade de xingar até minha última geração: "Sentimento natural é o caralho, que se foda o espírito infantil, vou quebrar aquela porta!!"... daí aquela voz irritante e moralista sempre vem pra buzinar no meu ouvido como nossos conceitos não devem modificar conforme as circunstâncias, "Cadê toda aquela convicção positiva, Dona Lílian?". Fiquei com vergoinha de mim, pedi pro universo então encaminhar as coisas da melhor forma e dispus-me a passar sei lá quanto tempo na escada, com a galinha morta descongelada, porém calma (Cara, eu tava putaaa!!).

Daí que entrando pras escadas, um menininho inglês brasileiro, de 7 anos, se interessou pela minha boneca laranja e pelos meus dedoches, não satisfeito quis subir até minha porta comigo e brincar com todas as minhas coisas (menos a galinha morta que eu não quis mostrar) e curioso, quis saber de mim, quem era minha família, se eu tinha ido pro Japão e ficou ali me fazendo companhia, impressionado com o pirulito que explode na boca que eu dei pra ele, parava e falava: "Rensga, é normal fazer barulho?", "É", "Explode assim mesmo?", "Aham!!", "Nooooooossa!! Isso é muito legal"... entrei pra casa sabendo tudo sobre Ben 10 e o seu relógio Omnitrix  e morrendo de rir do Nikk dizendo que meus óculos parecem de velho, mas que são fera. 

Em um determinado momento, tirou duas balinhas do bolso, morango extra ácido que ele recomendou chupar depois de beber leite pra ficar mais ruim ainda (ele garante que é mais legal), e falou "Você já bebeu leite hoje?", "Não, Nikk", "Você gosta de leite?", "Gosto muito com Quikk", "Toma!", abrimos as balinhas e depois de caretas e risos, ele falou "Eita, que sorte que eu tinha essas balinhas, se não você ia ficar com muita fome aqui sozinha", depois fiquei me perguntando se não me formou uma lagriminha com tanta delicadeza, que anjinho mais maravilhoso, mal sabia ele que eu tinha uma galinha.

Ele também descobriu minha câmera na bolsa que ele remexeu, então de repente a Vívian chegou em casa com a chave da pátria, a gente tirando foto no corredor, mas o Nikk é tão massa que quis entrar pra comer Bis, escrever no meu quadro e ganhar o Poupançudo da Caixa que a Vivi deu pra ele. E como eu não queria passar por pedófila sequestradora de filhos alheios, levei-o até seu apartamento, entreguei suas fotos e pedi autorização pra sua mãe para usá-las, ela assentiu morrendo de rir da boca melecada de açúcar explodidor nas bochechas dele. 

Essa foi a maior surra de chicote que já levei do universo: "Conservar sempre o sentimento infantil, sim, e ser sempre espontânea e feliz com as circunstâncias, o universo colabora com quem se deixa colaborar", renascer no mês do nascimento é de se lisonjear, Poliana existe.



quarta-feira, 21 de março de 2012

Getting in the swing ♫♪♫



"É preciso suportar duas ou três lagartas, se quiseres conhecer as borboletas", é esta fala da rosa, no Pequeno Príncipe, que me sustenta ao concluir: "Há de se aguentar algumas celulites pra ser feliz completamente".

A gente tem que admitir, uma hora ou outra na vida, que não nasceu pra puxar peso. Decido, então, dançar, individualmente e com prazer, assim como venho fazendo ultimamente e sem massacre psicológico. Existem outras formas de se manter, sempre.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Nossos dias.


Mil comentários de mulher sobre o vídeo: curti demais, quero esse cabelo curtinho de uma delas... quero a leveza dessa música sempre... acertaram muito, isso é pra gente!!...


Esse dia é muito válido, sim, todo dia é dia de mulher, é dia de homem também, é dia de pessoas... mas esse dia, em especial, não se pode esquecer, foi marcado dessa forma pela morte de 130 mulheres, mortas queimadas, numa fábrica, presas lá dentro, fazendo greve por melhores condições de trabalho.


"Meninas, não caiam nessa de dia de mulher", eu li no Facebook do jornalista Marcelo Tas, até curti... mas depois repensei: Que não se caia no esquecimento o motivo desse dia.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Toda em coisa


Eu fiquei lá mesmo, pensando um bom tempo... será que ousar só um pouquinho, mesmo só assim, dentro do meu universo, ia fazer tão mal, ia expôr tanto? Daí que ele era assim: encantadoramente nerd e eu já tinha absorvido a ideia como minha e ia me tornar parte dela.

Janelas para o mundo, foram elas que se abriram para mim... enormes, amplas. 

Adeus, quadradinho. Trabalho, logo compro. Comprei mais que a passagem pra minha inteiridade, comprei o aviador completo. 

Hoje coloquei um poema no quadro, para um exercício de gramática, e o menino não entendeu tudo, mas interessou. Tão distante da poesia, ela lá, pregada no quadro, quis saber porque de mim era próxima: "Este poema é tão completo, tão intenso, que não o leio sem arrepiar... é o que de mais verdadeiro conheço e o que de mais conselheiro tomo. Miguel, se é pra ser alguma coisa, que não seja de pouquinho não, seja totalmente, assumido, verdadeiro e dedique-se de todo, mesmo para o que seja pouco"....

Ricardo Reis - Fernando Pessoa


"Para ser grande sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em coisa. Põe quanto és


No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive".

Acho triste encontrar pessoas que são pouco. Se é para ser, que seja muito. Assumido: camiseta vestida e panfleto na mão!

É por saber que eu penso assim (antes de eu mesma reconhecer inclusive) que meu pai sempre me deu melissas rosa choque, deixou-me pintar os cabelos mil vezes na adolescência (passei por boa parte do círculo cromático), encheu-me de roupas hippies, me colocou para ler Menino Maluquinho, tomou coragem e me deixou ir e voltar pra Bordeaux e hoje me deixa ler gibi no tatame ao invés de lecionar entre quatro paredes todos os dias.

Como disse a coordenadora: "Essa ai da aula até de baixo do pé de manga"... A Memê também sempre fala: "Vishh!! É doida mesmo". Aymê, doida nada: real. Créditos de papai. Ter pai que aposta as fichas no incomum é raro, torna-me mais inteira ainda: Papi, você sabe que eu também te amo, esqueci de responder a mensagem hoje cedo, estava em aula.

terça-feira, 6 de março de 2012

Literatura de conveniência



Aquele momento em que há tanta bagunça que você não sabe por onde começar a arrumar.

Tanta comida, que não sabe por onde começar a comer.

Tantos compromissos, que não sabe ao qual não faltar.

Tantos textos, que não sabe por onde começar a ler.

Respira fundo, toca a música, amarra o cadarço e escolhe!

Há sempre o escolhido, optar por um não exclui o outro, "apenas" evidencia para o mundo quais são as prioridades.



domingo, 4 de março de 2012

Há de se refletir


"Que a justiça seja feita!"... quantas vezes na vida ouvi este choro nos noticiários?

Quando eu era criança e a minha mãe me colocava de castigo, eu tinha que ficar no sofá assistindo o jornal inteiro, era simples marcador de tempo, mas o corretivo virou hábito na vida adulta.

E ai outro dia, alto das férias, acordando lá pelas tantas, só resolvi abrir o Facebook umas duas horas da tarde. Deparei-me com vídeos e características de uma mulher que resolvera espancar um cachorro até a morte. As pessoas estavam ensandecidas, vasculharam tanto, que descobriram a vida completa dela... no final das contas, realmente foi punida (dentro das leis e concessões que lhe couberam).

Daí hoje, assistindo Fantástico, pergunto: Cadê o CPF, o endereço, o telefone residencial, a ficha completa dos assassinos que atearam fogo nos dois moradores de rua de Brasília? Cadê os protestos na frente das suas suntuosas residências? Cadê os status revoltados? Cadê as pessoas questionando a existência da humanidade?

Não sei... não existem. Porque talvez, numa triste cena de desamor, amamos mais os yorkshires indefesos as nossas próprias vítimas sociais. Nem arrisco dizer que essas pessoas (com direito a negrito, itálico e sublinhado) tem uma vida de cão, vida de cão, meu amigo, é assistida. 

Conheço gente que se dedica a ONG de cachorro abandonado (o que também tem muito valor) mas não estende o olhar crítico pra frente da coleira que leva à mão. Que compartilha toda semana imagens de gatos despelados por loucos em busca do vislumbre de alguma autoridade, mas não tira o dia pra ler um artigo relevante se quer.

Sejamos nossos melhores amigos também. Alienação fantasiada de revolução virtual não cola. Será que todo amor ao próximo se esgotou lá na revolução contra a enfermeira chutadora? Não sobrou nem um pouquinho pros mendigos, por quê?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Das escolhas, obrigatoriamente as melhores.



"Para não seres tragado pelas ondas bravias da vida, nada com o salva-vidas chamado "sonho" bem fixo em teu coração" - Masaharu Taniguchi.

Mais que sonhado, tenho vislumbrado um futuro tão certo que só poderia ser conjugado no mais que perfeito e  tem sido sempre acreditando, que tenho conseguido. Da mudança da alma para o espaço. Fé é necessária.

Nesta segunda inciei mais uma vez a leitura do Pequeno Príncipe com outro 6º ano e suas peculiaridades... mais uma vez reforcei minha raposa, entendi de novo porque ela está aqui, mais uma vez uma nova leitura.

É preciso relembrar."Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe"... ele concluiu num de seus devaneios... é, eu também acho. É preciso traçar objetivos. Hoje: mensuro-me.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sempre inteira, nunca em partes.




"Mas não joguemos todo nosso caminhão de entulhos naqueles que nos vem abertos e nem sabem o que está acontecendo" - disse a Lelê, com chopp.

"Camiñando hace el camiño", em pragmatismo amoroso é assim: não pressupõe-se, vive-se.

É toda essa vida um teatrinho mesmo. Encena-se, aqui, os inícios repetidos. Ser sempre folha branca, papel sem marcas. Ora nos encontramos com pessoas maravilhosas e por todas as estrias que nos deixamos estriar pela vida, não somos nós aqueles que deveríamos ter sido.

Uma conta que não se deixa pagar, um beijo que não se deixa doar, uma palavra que se retém no pensar, tudo pela marca que se deixou pregar. E em nossos poucos minutos, passamos a descontar todos nossos trocos retidos ao cliente trocado.

Conheçamos e nos entreguemos como aquele que nunca se mostrou, limpos e inexperientes. Pela experiência acuso: melhor a inocência renovada.

Sempre folha branca, papel sem marcas, boa cicatriz.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"E por isso não erra e é comum e boa" - O guardador de rebanhos.


"A firmeza é um atributo essencial da morte. 
Não somos firmes no amor,
 porque em nada podemos ser constantes:
 continuamente nos vai mudando o tempo: 
uma hora de mais é mais em nós uma mudança".
Matias Aires. 

E é na fração de segundos que mudamos, 
ora sou 
e por qualquer efeito catalisador,
é num prazo de milésimos 
que deixo de ser.

"Em dois anos todas as células vivas em seu corpo hoje já terão morrido, seu corpo manterá parte da aparência, mas você não será materialmente esta que está aqui" - apontou o dedo no meu rosto e me alertou pro que de mais importante preciso hoje: nesses meus prazos curtos vou evaporando, abstraindo-me, literalmente por existir, desapareço. Por viver, morro. Por transitar, melhoro.

"Esta fui eu há dois anos" - posso afirmar - "com toda clareza, nesta imagem, não me pertenço mais". - Não nos pertencemos nunca.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Navegar é preciso.


Então foi assim? Tudo num combo que agora parece comprimido, mas que só minha consciência mais racional comporta e relembra a longa e difícil dilatação. Tudo no ano que passou foi trabalhoso, mas não só de ócio vive-se e aprazea-se.

2011 foi um ano de cortar cordões... formar, conhecer, viajar, provar, voltar pra seguir em frente. Por fim, lá no finzinho, percebi um novo cordão se construir, ainda sinuoso... novos ciclos se formam. Talvez porque nunca tenha realmente lido Fernando Pessoa, hoje encontro-me nele, explica-me ele aos mínimos detalhes, objetivos e justificativas, nele estou em pretérito, presente e em planos: 

"[...]Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
mas nele é que espelhou o céu". 
(Trecho de Mar Português)

Hoje embarco novamente. Viver não é preciso, o título explica e, assim como Pessoa, troco por criar, desejo tempo para desenvolver meus raciocínios. Muita coisa pra contar, pouco tempo para escrever, aos amigos, vamos marcando umas conversas, ao blog, vou trocando os desenhos do sketchbook pelos textos a mão a serem digitados adiadamente!