terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nossos baobás


Esta manhã eu não acordei leve. As coisas ficaram meio pesadas. Tem um pouco de bagunça no meu quarto. Ainda tem um pouco que sobrou de ontem, quando eu tentei arrumar tudo e não deu tempo. Não deu tempo... eu quis ver a novela... eu quis desenhar... eu tinha que desenhar uns rabiscos e eu precisei corrigir mais umas provas. Aí sobrou uma desordem escondida no guarda-roupas, uns textos mal colocados nas prateleiras e uns livros fora da decoração. Mas como hoje as coisas acordaram pesadas e eu gosto de viver levemente, então eu resolvi que vou fazer daquelas limpezas conscienciosas e colocar as coisas nos seus devidos lugares... terminar os excessos.

Essa é a história da menina que muda. E gente!? Ela muda todo dia. É insuportável. Ela não acha fácil e ela não gosta disso. Mas acontece, fazer o quê?! Tem dia que ela acorda assim, as vezes pelo que aconteceu na noite passada e ela simplesmente levantou e mudou de novo. É um saco. Ninguém aguenta mudar tanto assim. Mas ela também sabe que nem é tão drástica. É mais dramática. E é uma farsa também. Finge racional, mas chora com o jornal. Chora com a novela. Molha os cílios com simples hipóteses, derrama água de rir, de emocionar, de ver o sol... ou a lua também, é que ela é (como diz Carpinejar) macia.

E ela não quer sofrer. Ela odeia sofrer. Contudo, ela sabe que o sofrimento é uma fórmula matemática. Que ela já sofreu umas vezes com brigadeiro, cama e livros e que vai sofrer mais algumas tantas vezes. Mas a corrida dela para que não se debulhe em lágrimas ruins lhe tira o fôlego às vezes, aí ela precisa chorar; e ouvir músicas nostálgicas também.

"Saudade de quando meu maior problema era resolver a tabuada", ela leu no Facebook, pois eu vou confessar: Eu tinha pavor de tabuada, eu não sabia resolver ela, eu não tinha ela de cor, meu pai me trancava no quarto pra memorizá-la e eu quase me mijava de medo na prova. Eu não tenho saudade desse tempo. Eu não sinto falta desse tipo de problema. Inclusive porque, sim, meus conflitos hoje são muito mais complexos, mas eu consigo resolvê-los com muito mais desenvoltura e com muito menos taquicardia.

Às vezes a gente vai ficando porque não está fazendo nada e não percebe que podia estar indo melhor com esse tempo vago. Às vezes a gente não percebe que está perdendo tempo. Às vezes a gente percebe. 

É necessário se dar conta da responsabilidade que temos conosco. Não é amoroso deixar que aconteçam por você. Quem se ama mantém a casa em ordem, vive o agora, mas programa as limpezas diárias. Não é justo com a gente fazer procurar o essencial no meio do lixo, cada anel errado, lápis trocado, borracha sumida, é mais em nós um segundo a menos.

Um comentário:

R. disse...

Adorei o texto. De todos, achei o mais bonito e sincero.