segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tinha uma nota no meio do caminho.


"E ai, Lili? Você tem namorado? Não. Noossa! Como assim? Mas faz pouco tempo que você não namora, né? Não. Mas você quer arrumar um namorado, claro!? Não. Como assim? Nossa, isso é mágoa, viu?! Você gosta do seu ex ainda? Não, não e não. Mas sua vida tá boa? Ahhh! Isso sim. Está ótima, está linda". (Sorriso de educação).
                                                             
Incrível como é uma obrigação ter um namoro. Incrível como a ordem dos fatores se deturpou, gostar para namorar pra quê? O importante é ter um pedação de carne pra dormir de conchinha e levar nos eventos sociais e olhe lá, se pá, você ainda pode vir a amá-lo. As pessoas não entendem mais que se você está solteira, não significa que esteja disponível e não entendem que você possa estar querendo simplesmente viver os seus projetos e que na sua vida namorar não é um projeto.

Será mesmo que essa percepção de que namoro não se procura é de tão difícil discernimento? Será que só eu penso que a formulinha é: olha, eu vou vivendo minha vida aqui, legal, vou fazendo minhas amizades, vou trabalhando, vou sei lá, fazer uma pós, um mestrado e um doutorado depois, vou colocar como objetivo principal viajar bastante... hum... mudar de cidade... ler meus livros, ver meus filmes, meditar na minha igreja, comprar minhas roupas... e se por um acaso, a-ca-so, eu encontrar nessa trajetória alguém que eu goste, alguém que se afine comigo e estivermos no mesmo tempo e espaço, ai sim, meu bem, eu vou querer alguém pra eu chamar de bem. Se não, não e que ótimo.

É engraçado. Encontrar algo que não estou procurando. Você está saindo do shopping, indo pra casa e no meio do caminho, ao invés de uma pedra, uma nota de 20, o rumo é a sua humilde residência (gorfo musical), mas por destino, percepção, sorte sua, azar do outro, ela está lá, linda e amarela pra você. Mas ela não é sua, você sabe que ela não tem dono, você fica com ela, pega esse carma pra você, entra em felicidade total, conta pra todo mundo e vai ser livre e pelo amor de Deus, deixa ela ser também, vão se gastar. Cara, dinheiro encontrado na rua é a reificação do namoro.

No meu padrão social a regra não é formar, trabalhar, namorar, casar, ter filhos. A minha regra social é ser espontânea e juro, eu achava que as pessoas normais eram assim. "Nossa, mas uma menina tão bonita, trabalhadora, que gosta de viajar, com tantos planos, não pensa em namorar, ter filhos?","É, por isso mesmo, se você tem o que fazer, você não fica pensando idiotice".

Eu também desconfio de quem pula de relacionamento em relacionamento. Eu desconfio de quem volta com ex, eu desconfio de quem não se basta. E olhe, eu já fiz tudo isso e asseguro, eu não estava lá sendo a pessoa mais corajosa nem do andar do meu prédio nessas épocas, a gente tem medo das turbulências (e ai resolve assinar o atestado de covardia, retroceder sem nem conhecer o que nos espera), mas depois que elas passam, viver consigo se torna lindo e numa outra possibilidade, viver com o outro passa a ser pelo que ele é, não pelo que a gente precisa. Sempre existirão novas perspectivas, é preciso lembrar.