sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sempre inteira, nunca em partes.




"Mas não joguemos todo nosso caminhão de entulhos naqueles que nos vem abertos e nem sabem o que está acontecendo" - disse a Lelê, com chopp.

"Camiñando hace el camiño", em pragmatismo amoroso é assim: não pressupõe-se, vive-se.

É toda essa vida um teatrinho mesmo. Encena-se, aqui, os inícios repetidos. Ser sempre folha branca, papel sem marcas. Ora nos encontramos com pessoas maravilhosas e por todas as estrias que nos deixamos estriar pela vida, não somos nós aqueles que deveríamos ter sido.

Uma conta que não se deixa pagar, um beijo que não se deixa doar, uma palavra que se retém no pensar, tudo pela marca que se deixou pregar. E em nossos poucos minutos, passamos a descontar todos nossos trocos retidos ao cliente trocado.

Conheçamos e nos entreguemos como aquele que nunca se mostrou, limpos e inexperientes. Pela experiência acuso: melhor a inocência renovada.

Sempre folha branca, papel sem marcas, boa cicatriz.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

"E por isso não erra e é comum e boa" - O guardador de rebanhos.


"A firmeza é um atributo essencial da morte. 
Não somos firmes no amor,
 porque em nada podemos ser constantes:
 continuamente nos vai mudando o tempo: 
uma hora de mais é mais em nós uma mudança".
Matias Aires. 

E é na fração de segundos que mudamos, 
ora sou 
e por qualquer efeito catalisador,
é num prazo de milésimos 
que deixo de ser.

"Em dois anos todas as células vivas em seu corpo hoje já terão morrido, seu corpo manterá parte da aparência, mas você não será materialmente esta que está aqui" - apontou o dedo no meu rosto e me alertou pro que de mais importante preciso hoje: nesses meus prazos curtos vou evaporando, abstraindo-me, literalmente por existir, desapareço. Por viver, morro. Por transitar, melhoro.

"Esta fui eu há dois anos" - posso afirmar - "com toda clareza, nesta imagem, não me pertenço mais". - Não nos pertencemos nunca.