sábado, 20 de abril de 2013

Eu, eu mesma e mais alguém.


Meu quarto é realmente sempre uma bagunça, eu juro que até tento manter a ordem, mas depois vai chegando um ponto que eu desisto mesmo, às vezes minha mãe arruma pra mim, mais às vezes ainda, para não dizer raramente, eu faço uma mega arrumação e coloco tudo no lugar, não será hoje, não foi ontem. São 6:50 da manhã, acho que meu rosto ainda está um pouco inchado, meu irmão dormiu nesse colchão no chão, ele mora com meu pai, mas tinha espaço no meu quarto, ele é pequeno, mas minha cama é de solteira.

Sim, minha cama é de solteira, mas eu já tive uma cama linda e gostosa de casal e ela era de molas... mas, um dia, resolvi trocar meu quarto inteiro, redesenhá-lo e nessa nova organização, eu quis uma cama para dormir sozinha, dei a grande para a mamis e assumi minha nova forma.

Então agora eu era uma solteira com cama de solteira e isso me tornou um tanto quanto mais solteira. Mas essa vida sem ninguém pra chamar de meu me mostrou um mundo que eu não conhecia e aos poucos me reorganizou também. Existem traços do solteiro que se deve apreender:

O solteiro é livre, o que ele fará do dia e dos planos dele são projetos dele, o solteiro sorri sempre e para todos, não sente ciúmes, ou no mínimo precisa controlá-lo até o ponto que aquilo não transpareça ciúmes e daí se acostumar tanto que aquilo nem exista mais. A solteira não pode se deixar levar por picuinhas, tem sempre um kit de maquiagem completo na bolsa, está sempre bem arrumada e sempre procura se enturmar, porém se estiver mal arrumada problema é dela, ninguém para reclamar nada... Solteiros são mais espontâneos, não tem ninguém controlando sua personalidade, suas vontades e estão sempre prontos pra próxima. O solteiro tem amigos, muitos, que, sim, somem em momentos importantes, mas quando aparecem trazem consigo muita alegria, muitas histórias... o solteiro tem histórias.

Mas eu acho que de tudo que a vida solteira ganha é a de ensinar-nos a convivermos com a nossa presença. Nem sempre tem um amigo, um evento, disposição ou dinheiro, nessa hora é que a gente surta. O solteiro não gosta de ficar em casa pensando tudo que ele poderia viver e pior ainda, tudo que ele viveu em tal época ou poderia estar vivendo se Fulano não tivesse sei lá. Nesse momento é que o solteiro mais ganha, nesse momento ele balanceia e percebe tudo que aprendeu com o tempo.

E aí a gente aprende, talvez por causa de uma amiga que apareceu num bar e nos falou algo que só iremos refletir depois, que nossa vida é como se fosse nosso corpo, mas com um buraco no meio. Não adianta tentar entupi-lo seja lá com o que for, você até pode tentar tampá-lo, escondê-lo de você mesmo com namoros, religião, livros, amigos, eventos, trabalho, família, mas aconteça o que acontecer, o buraco está lá, entupido porém buraco. Então você é obrigado a se dar conta de sua presença e a conviver com ela.

Por mais que no início pareça ruim fazer as coisas sozinha, com o tempo se torna opção, eu adoro ver o pôr do sol com meus amigos, mas eu também adoro fazer isso só. E é claro que tem gente que já nasceu sabendo tudo isso, sem dificuldade e faz isso com alguém, eu sou daquelas pessoas que precisa que a vida mostre. E é claro que todo mundo quer alguém pra chamar de seu, mas isso não é fundamental, essencial é descobrir a pessoa maravilhosa que podemos ser para nós mesmos, antes de sermos para qualquer pessoa. Terminar relacionamentos é dos fatos mais abençoados, eles nos dão a oportunidade do aprendizado e do amadurecimento, queiramos nós, percebermos isto. 

Talvez nossa grande missão neste mundo seja aprendermos a conviver com a nossa presença, tem gente que não se aguenta, precisa do outro sempre, não se segura sozinho por dois meses e deixa de absorver a vida encantadora que vive em si. Tem gente que vê as pessoas dizendo que vivem com muito amor alheio e quer demais que essa magia misteriosa aconteça pra ela também, também quer posts no facebook, fotos apaixonadas, status atualizados, sexo com amor, eu queria muito comer um sucrilhos agora cedo.

Nada melhor que conhecer uma pessoa linda, inteligente, com os mesmos gostos musicais ou de leitura que os nossos e que por um milagre da vida está no mesmo tempo que a gente, essa pessoa linda pode ser eu mesma, e pela primeira vez na minha existência eu posso me dar conta dos meus detalhes, da minha personalidade, das minhas vontades e se depois aparecer mais alguém que também queira admirar tudo que eu pude perceber aqui e que também seja de se admirar, legal, vamos lá, todos juntos, eu, eu mesma e mais alguém.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Três fatos meus sobre paixão.


Não é que nunca me apaixono. É que lá no fundo, guardo o segredo irrevelável da paixão que sinto por qualquer sujeito que me aparece, me arrebata e eu, colada que me coloco, não conto, não faço, não progrido, porque não penso que compense alí. O princípio da vacina, te injetam um tanto de doença que seu corpo consegue reconhecer e não que você nunca padecerá desse mal, é que ele vive em pequenas quantidades dentro de você. Quero o irremediável.

Sou uma pessoa apaixonada, apaixono-me cotidianamente pela imagem refletida de mim no outro e, assim, vou confundindo-me pelos meus dias, por minha causa.

Acho que em grandes espaços temporais, sempre estive envolvida num grande conflito interno.

domingo, 14 de abril de 2013

A qualidade das pessoas encantadoras.



A qualidade das pessoas encantadoras
ou
A qualidade de ser encantador

ou
Sobre os seres que encantam

Ela sabe. Finge não perceber que está sendo analisada, de alguma forma se pertencem, levanta a vista, fixa o olhar, quebra a cabeça para o lado e sorri, como se dissesse: "Oi, meu bem, eu sei que você está me observando". Se olham por alguns poucos segundos gostosos, até que se desviem novamente. A qualidade das pessoas encantadoras.

Sempre preferi as pessoas encantadoras às bonitas. As pessoas encantadoras falam com o corpo, movimentam-se na exata sincronia de suas vozes e assuntos, tons e olhares, dominam o ritmo.

Elas circulam por aí fazendo uso, sem intervenção de leis, dos poderes da magia, vivem nos nossos círculos sociais e não se enganem, são nossos amigos, familiares, namoros... mas não é todo amigo, todo familiar, todo namoro. Eu, por exemplo, tenho muitos desconhecidos encantadores, muitos amigos e familiares encantadores, professores, mas tive apenas um namorado que me arrastou pelo encantamento. A pessoa mais encantadora que conheci foi uma amiga. Encantamento é a propriedade do ser, não do gênero.

As pessoas encantadoras tem corpo e parecem conhecer cada ponto de seus membros. Elas tem mãos que giram no ar e ombros que caem de acordo com seus interesses. Mais do que seres belos, seres charmosos.

Ser encantador é praticamente um ofício bruxo, um talento: o dom de encantar, de deturpar a visão além dos padrões físicos, é a beleza abstrata.

As pessoas encantadoras balançam a cabeça enquanto falam e tenha sorte que não mexam em seus cabelos. Elas olham profundamente em nossos olhos, mas escapam de nosso olhar antes que as enxerguemos. Existe qualquer cinismo meigo em suas bocas.

Não é que estes seres metafísicos, manipuladores de sensações, façam (sempre) de propósito, mas eles tem consciência de seu domínio e abusam dele em nós, pobres mortais enfeitiçados.

Qualquer sorriso completamente particular, quaisquer olhos semi-cerrados, algum cheiro alcoólico no perfume, alguma essência embriagante.

A pessoa encantadora é doce, é ternura ativa, nós dizemos: "cativantes", ela não diz tudo. Sempre falam muito não importa sobre que assunto, é envolvente. Mas sabemos, falta alguma parte colocada lá naquela caixinha de segredos informais guardados a trinta chaves que são suas mentes. Nós achamos que elas nos querem, elas...? Elas são ambíguas.

Tenha Deus a bondade de nos apresentar pessoas encantadoras e piedade de nossos corações vulneráveis aos efeitos delas.

terça-feira, 9 de abril de 2013

As coisas que aprendi com o tempo - Minhas não-rugas.


O tempo me ensinou o que os livros me contaram, mas com a propriedade da aplicação.

O tempo me ensinou que a vivência ultrapassa a teoria.

O tempo me ensinou a não perder tempo.

O tempo me ensinou que envelhecer não é perder tempo e me ensinou também que a vida sem lei, sim, é perda de tempo,  que as regras tem de ser seguidas...

O tempo me explicou que é verdade a máxima de que quando ficamos muito fora, não estamos querendo mesmo olhar pra dentro.

O tempo me comprovou que Freud explica.

O tempo passou e me mostrou que quanto mais calma estive, mais construção trabalhei.

O tempo me ensinou a acrescentar na vida das pessoas e, mais tarde, a acrescentar primeiro na minha.

O tempo me ensinou que acrescentar necessita equilíbrio. Também me ensinou que há muita gente desequilibrada por aí procurando equilíbrio alheio pra se balancear. Como não se desequilibrar então?

O tempo me ensinou que equilíbrio é um exercício contínuo.

O tempo me comprovou na pele que o tempo passa, que as pessoas passam, que a vida passa... o tempo obrigou-me a entender que o tempo é um ciclo mutável e que a única coisa que não muda com ele é que ele sempre muda.

O tempo ensinou-me a ensinar. Ensinou-me que crianças gostam de ser tratadas com a seriedade dos adultos e que adultos gostam de ser tratados com a mesma compreensão que concedemos às crianças.

O tempo me ensinou que a vida é uma passagem, que tudo passa e que isso também pode ser uma dádiva.

O tempo ensinou-me a apostar nas pessoas, a acreditar no que ainda não existe, no que nunca foi visto, a quebrar as regras, a relevar os erros e a esquecer o passado. Ensinou-me a registrar os fatos, mas a não guardar rancor.

O tempo ensinou-me que é verdade que as pessoas são reflexo de nossa mente.

O tempo me ajudou a pensar sozinha.

O tempo me ensinou a procurar opiniões diversas.

O tempo ensinou-me a ponderar as ideias e a escolher um caminho livre de influências.

O tempo ensinou-me a não roubar no truco e a não acreditar em quem pensa no proveito que tira das situações antes de agir.

O tempo me ensinou a acreditar na bondade do desconhecido, na sorte do destino, na seriedade do planejamento.

O tempo me secou um pouquinho e ao mesmo tempo pediu que mantivesse a crença na docilidade.

O tempo me ensinou que sempre há tempo.

O tempo me ensinou a queimar as pontes que atravessei.

O tempo me ensinou a importância do amor.

O tempo me ensinou a abençoar todo o próximo e a ter pena de quem apoia o desastre ao invés de aconselhar: "Resolva".

O tempo ensinou-me a rezar. Ensinou-me a não chorar tanto e a sorrir mais.

O tempo ensinou-me a conviver com a decepção e a não deixar de acreditar.

O tempo me ensinou a diferença das histórias que contam e a dos fatos que acontecem. O tempo ensinou-me a não dar tanta credibilidade às narrativas em 1ª pessoa.

O tempo ensinou-me a ser ambígua. Muito creio e muito desconfio.

O tempo me ensinou a meditar nas horas de turbulência e calmaria. O tempo me ensinou que harmonia é mais importante que alegria.

O tempo ensinou-me que quem muito se ausenta continua fazendo falta, a gente é que se acostuma com a falta.

O tempo me ensinou que eu gosto de batom vermelho, mas que eu fico melhor de rosa.

O tempo me ensinou que ninguém morre por causas naturais de amor. O tempo me ensinou que amor faz viver e que a busca do mundo é a de reconhecê-lo nas situações, nas matérias, nas pessoas... e se esquecem que amor é o reconhecimento de si na imagem do próximo. Amor é se enxergar como é e se amar no espelho que é a alma de todo outro.

O tempo vem me ensinando a conviver comigo.