quarta-feira, 11 de junho de 2014

Um texto ridículo sobre o dia dos namorados


“Eu tinha um namorado” – Essa é a frase que se repete em muitas das minhas histórias há 4 anos, lá no passado e ela repercute em várias instâncias:

1ª – Eu tinha: no pretérito imperfeito, um tempo lá do passado que se repetiu (E como!) e que ficou lá no passado mesmo.

2ª – Nos tempos em que eu era a namorada, a frase para contar histórias que incluíam ex-namorados era: “Meu ex”... aí o tempo se passou e todos os namorados se tornaram ex, e eu comecei a perceber que essa palavra “Meu” antes do “ex” era muita posse de algo que já não era meu, era a posse do que eu não quis e mais ainda: a posse do que não me quis, aí aquela denominação meu-ex passou a reverberar nos meus ouvidos, dizer "meu-ex" virou quase um arroto em público que me constrangia e aí virou uma frase de simplesmente situar o tempo: “Eu tinha um namorado”.

"Eu tinha um namorado" delimita minha vida entre a eu compromissada e a eu livre. E a palavra não é solteira, porque é bom lembrar que namorados também são solteiros, e mais ainda: solteiro é a propriedade daquele que nunca casou, uma vez casado, nunca mais solteiro, talvez divorciado, viúvo, mas solteiro nunca mais, meu bem. Solteiro é a oportunidade única da vida. Aliás um bom apontamento é este, não existe estado civil namorando, relacionamento sério.

Então eu comecei a namorar aos 15 e olhe, em relação as menininhas espevitadas da escola em que estudei, eu fui a última. Cada um de meus relacionamentos deixou uma marca, um pedaço de mim que se dissolveu e fez de mim cada vez mais uma outra pessoa. O primeiro foi com um daqueles caras que querem tirar a virgindade da primeira macaca que aparecer, no caso, eu fui a macaca.

Uma coisa que aprendi com relacionamentos é que quando você se machuca muito feio em uma relação, sempre aparecerá alguém que te curará os traumas... Dos meus namorados (naquela época eram meus), um deles eu queria ter namorado a vida toda, eu queria ter aguentado com ele os defeitos dele e mudado os meus e talvez seguido aquele padrão de vida que de repente eu me dei conta que não se encaixaria jamais em mim, mas aí o amor acabou. E eu descobri que pior que ser rejeitada é terminar um namoro.

Enfim... tive uma série de relacionamentos a diante que nem ao menos merecem ser contados, esses eu classifico no arquivo do “DEU ERRADO”. Outro apontamento que acho válido: Como eu já li status de auto-ajuda a dizerem: "Terminar um relacionamento não significa que deu errado, deu certo durante algum tempo". UMA OVA, MEU FILHO! Deu errado sim, deu tanto errado que acabou, se a massa de um bolo está uma delícia e na hora de assar, o bolo sai murcho, ELE DEU ERRADO! E problema da massa que estava uma delicinha antes, bolo nunca será.

Daí que eu nem sabia o que era ser eu. Comecei a namorar tão cedo, que quando pude pensar sozinha pela primeira vez na vida, eu estava pensando a dois e depois a dois de novo e sempre a dois e algumas vezes a três também (Porque nada melhor que descobrir a dor dos chifres).

Logo comecei a pensar e a entender o que era o mundo apenas pelos meus olhos, comecei a precisar eu mesma formatar meu computador e a decidir o que faria eu dos meus finais de semana e como tomaria conta daquela noite sozinha aos 21 anos. Até então, eu sabia nome e sobrenome de todas as pessoas com as quais havia me relacionado. Até então eu ia financiar uma casa da Caixa, comprar eletrodomésticos nas Casas Bahia e casar na chácara do meu pai. Até então, meu pai não sabia com o que eu gastava meu dinheiro, mas meus namorados me faziam quebrar meus cartões de crédito. Até então, minha mãe não queria saber a diferença entre eu beber uma taça de vinho ou uma adega inteira e meus namorados controlavam até mesmo se seria UMA taça tinto ou branco.

Mas pra mim, a pior coisa de meus namoros errantes era o controle via celular. Deixasse, eu, cometer a besteira de chegar em casa e esquecer de mandar a mensagem de cheguei, depois da facul: já tinha pegado pelo menos uns três calouros da agronomia no campus e dado o perdido quando atendesse o telefone ciumento em casa. E esses telefones ciumentos foram os cabides ciumentos, foram as maquiagens ciumentas, os passeios ciumentos, os cabelos ciumentos e qualquer coisa que eu quisesse fazer com meu próprio corpo e minha própria vida que não incluísse a companhia do meu namorado.

Daí que lendo essas coisas todas e relembrando minha vida amorosa, eu me pergunto porque hoje eu sinto falta de alguém? Na verdade, acho que eu sou parte das amigas solteiras que os namorados das minhas amigas morrem de medo que as chamem pra sair. E sou também aquela amiga solteira que todo mundo sabe que pode contar pra socorrer: uma companhia, um conselho, uma roupa, uma maquiagem sempre a pronta entrega. Minha irmã sempre ri quando uma amiga sai das trevas do passado mais remoto possível e depois de anos de namoro com qualquer um, ressurge das cinzas. Uma amiga minha disse uma vez que a dúvida do namorado dela era: "Por que essa menina bonita não namora? Ela deve ser o capeta".

É um outro problema de ser alguém que não namora há um tempo se você não tem farinha saindo do rosto quarado de espinhas: Você só pode ser o capeta. E na verdade, ninguém é necessariamente ruim o suficiente para não ter alguém. Descobri recentemente vendo os casos mais bizarros possíveis de relacionamentos que, realmente, não existe frigideira, toda panela tem sua tampa.

E olhe, acho mesmo que as pessoas precisam de um tempo sozinhas para descobrirem quem são. Outras já tem a sorte e a maturidade desde sempre, minha irmã namora o mesmo rapaz desde os 15 anos dela, quando eu comecei esse rali.  

Eu gosto de ter descoberto que eu sou tão boa assim sozinha, gosto do que levei de cada um e do que deixei... e nessas horas até repenso a parte do Deu Errado. E eu sinto falta também de filme em casa com pipoca, dividir cama, acordar com a camiseta grande dele, mandar mensagem de bom dia e receber também, conhecer e pegar as manias do outro, implicar com carinho... enfim... descobrir um universo dentro do meu.

Mas veja, gosto do meu universo, gosto de ir ao cinema sozinha ou com a Bah, gosto de escolher tudo que é meu, de me espalhar na minha cama e de dormir com cabelo molhado e acordar a Negra Li sem ninguém pra assustar do meu lado, gosto de assistir seriado sozinha, viajar sozinha pro FICA com uma garrafa de vinho pelo rio, gosto de encontrar pessoas ao acaso e de tecer experiências antropológicas aos montes sem culpa e divisão. Gosto de fazer vinte tatuagens se eu quiser da noite pro dia sem pitaco alheio.

E pra quê tanta autoafirmação de uma tia solteira (Sim, nos anos 50 eu seria uma feminista convicta e largada, meus irmãos teriam filhos e eu seria a sapatão escondida da família)?

É pra dizer feliz dia dos namorados a todos vocês que tiveram a chance de encontrar alguém que os complete sem lhes ferir o eu. É pra sussurrar que todo mundo quer conhecer alguém que dá certo no primeiro beijo e que você pode virar a noite com esse alguém qualquer sem nem perceber. É pra dizer que dia dos namorados é lindo quando você perdoa até os defeitos do outro, porque acha bonitinho. É pra suspirar aqueles encontros que eu observo tão gostosos quando vejo os casais de longe.


É pra contar que amor não prende, que é ótimo cruzar universos, que sexo com paixão é o melhor de todos, que cotidiano é massa e lembrar a você que encontrou seu par e não tem dúvida de que quer passar o dia dos namorados só com ele: Você deu sorte, filhote! 

É pra aconselhar a você que ainda não se decidiu se vai ou se fica: Na véspera do dia dos namorados é paia terminar, espere o dia 13 pra finalizar isso. E a você, que não encontrou nada disso ainda: Vai na fé, irmão, você não é uma frigideira! Porque como diz uma amiga minha que leu este texto antes que eu publicasse: Não demora, que o tempo corre.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Salve um aluno.


Todos os dias eu vou trabalhar numa escola. Agora eu vou como coordenadora e nem sempre estou tão perto dos alunos como eu gostaria... mas estou lá atrás de cada um dos professores projetando formas de levar, à cada um daqueles meninos que nos foram confiados, o mundo dos centros culturais, da leitura, do sentimento, da amizade, do perdão, das percepções históricas, matemáticas, geográficas, políticas... 

Houve uma época em que eu estive ligada estritamente a Língua Portuguesa e eu tentava ampliar minha chegada o máximo possível ao mundo fora dos muros da escola e dentro também. Hoje eu faço isso um pouquinho em cada matéria... às vezes eu fico pensando em minha sala, e em casa, e na faculdade, e no carro, e nas viagens, e no banho, e na troca de roupa, como fazê-los perceber que as matérias estão no mundo. Sim, professor pensa seu trabalho o tempo todo.

E vez ou outra eu preciso, durante a semana, após o dia de trabalho, tomar uma cerveja com um amigo e fazê-lo ouvir meus desabafos sobre estritamente a minha escola e amplamente o sistema educacional... numas dessas eu acabo chorando, porque eu sou chorona. E chorona que sou, eu choro no banheiro pensando sobre tanta coisa que precisa ser feita... eu choro vendo vídeo de professor sendo agredido por aluno e choro de raiva assistindo jornal na hora do almoço que tira sempre toda razão da escola e do professor. Choro vendo aluno dando errado, dando certo e quando vão embora, porque terminaram as etapas.

Em todos esses momentos eu penso muito em continuar e penso muito em desistir. Quem trabalha com educação trabalha em equipe e às vezes se vê muito sozinho... é que o bombardeio vem de todos os lados. Todo mundo percebe que o sistema faliu, os alunos, os professores, os coordenadores, os diretores, os proprietários, os pais, quem já passou por uma escola sabe, tudo precisa ser mudado. E a gente está tentando todos os dias mudar e cada mínima mudança perceptível tem um pai pra tirar o filho da escola, um dedo apontado, uma secretaria da educação pra pressionar, um aluno pra não querer participar porque o importante mesmo é passar no vestibular e agora no ENEM.

Eu quero, e neste aspecto eu digo com conhecimento empírico, porque eu cresci na parte de dentro de uma escola, como aluna e como filha de professor e diretor, é um mundo onde as pessoas saibam criticar com propriedade e queiram colaborar. Por aí temos dezenas de pessoas a criticar tudo que fazemos e temos quantas dispostas a se responsabilizar completamente pela educação do próprio ente? A colaborar com a escola? O que eu vejo desde os 11 anos é uma porção de pessoas que mal pagam uma mensalidade, entregam seus filhos na porta da escola e se dispõem a execrar todos os defeitos da educação, a questionar o professor pelo mal desenvolvimento do filho, a responsabilizar a instituição escolar por todo fracasso e vez ou outra pelo sucesso ou nas instâncias públicas: a colocar a culpa no Estado. 

A rede pública tem professores faltosos porque, fora o salário, o professor não tem aparato dos pais, incentivo dos alunos, tão pouco do governo. Eu confabulo: se assumíssemos, cada um de nós, nossa devida responsabilidade, os governos sambariam como sambam em nossas caras tão descaradamente? O que ocorre rotineiramente é: Se o estudante fracassar a escola é ruim e a culpa é do professor, se vencer é pelo que ele recebe de preparo em casa e conseguiu por conta do que ele mesmo já é. Se ele bombar: processo no colégio, se ele for excelente: cadê nossa bolsa de estudos? Será que não dá para perceber que o trabalho é mútuo?

Existe uma nova  (se não já antiga) demanda social que é a de educar para a vida, as mães e os pais estão em seus empregos e alguém precisa fazer o serviço educativo, mas isso é um trabalho em conjunto e que, me desculpe quem o recusa (e eu compreendo muito bem), já está aí.

Eu, como professora há 8 anos, formada, coordenadora pedagógica (Isso deve valer de alguma coisa, não é possível) estou disposta a mudar esse sistema falido, eu e uma série de amigos e suas escolas (Apesar de que muitas somente se beneficiam da produção em série). Porém, nós, sozinhos e enxovalhados de ofensas à instituição como um todo (Nos jornais, no dia-a-dia, nas bocas, nos facebooks, instagrans, youtubes, whatsapps, blá, blá, blá), vamos conseguir com muito mais lentidão.

Mesmo que este texto esteja chorando mágoas, o meu cotidiano entre alunos é construído com risadas. Entre alunos, entre professores, entre secretaria. Nós trabalhamos todos para esse trabalho valer de algo e o fazemos de modo a ter sentido. Penso que todo aquele que não vê sentido na escola, deveria ajudar-nos a repensá-la e arregaçar as mangas, pois, como eu disse ainda esta semana para a mãe de uma aluna: As críticas precisam ser trazidas o quanto antes para que possamos resolver os problemas, caso contrário não é crítica, é apenas reclamação... e resmungo, sinceramente, não ajuda em nada.