quarta-feira, 27 de julho de 2011

No meu tempo.


Os dias confortáveis me fazem lembrar que prefiro me decepcionar quantas vezes forem necessárias para não deixar de acreditar nas pessoas, nos fatos e nas esperanças... porém sou inquieta, os olhos sempre fixos, mas as pernas sempre dançando.

Já fui daquelas que largou para trás pessoas e lugares e quando retornou percebeu que ambos não existiam mais e penso que essa é das maiores decepções que existem... mas nos últimos momentos, percebo que meus lugares, minhas pessoas, meus instantes, por mais que preteridos, estiveram sempre ali, tão meus como sempre.

Durante quase 1 ano de tempo meu, a Vivi esteve longe e em meus sonhos ela sempre retornava outra, nós éramos outros, a chácara e Goiânia eram, para ela, outros. Mas quando ela pisou seus lindos pésinhos branquelos no Santa Genoveva, parecia que ela nem nunca tinha saído daqui e foram assim que as pessoas e os lugares, depois dela, passaram a aparecer em mim, como se nunca tivessem ido.

E é ai que o Saint-Exupéry sempre volta pra mim, não era ele que dizia que "aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós"?... isso só reforça a ideia de um certo professor importantíssimo em minha vida, escrita num livro de poemas que sempre leio: "a mão fechada se torna um ponto e aberta se torna infinito (...) a vida não está contida na escala do tempo, não está contida na escala da caducidade" (Masaharu Taniguchi)... e me abre a um paradoxo: tenho tempo para tudo, mas não posso demorar, estou levando as coisas tipo Jack Estripador, por partes... esperando e indo embora.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Zorra


Sou do Oeste. E é por isso que minha raposa olha pra lá.

Nem nunca pensei em raposas, até apreciava um tiquinho a Kyuubi... e tinha aquela de um desenho que eu gostava quando era criança, que a raposa, apesar de predadora, amava e cuidava de sua amiga cegonha. Teve também aquela do "Todos patinhos", que a Dassa me deu de aniversário e contava da caçadora laranja que acaba por formar uma família de patos, esperando sua presa crescer, tornou-se pai e descobriu que o tempo constrói o sentimento.

A raposa, na literatura, sempre é um ser faminto que é enganado pelo tempo e este mesmo tempo é o que a torna melhor, mais amável e mais sábia, aproprio-me dela. Até tem uns significados orientais, de ser astuto, feminino, feiticeiro... e mesmo que eu os aceite, em mim não caberia demasiado clichê, não como motivo.

A minha raposa é a do Pequeno Príncipe, a que é cativada, a que dá valor ao tempo que se dedica àqueles que se pensa comum e que só nós, raposas, sabemos que é pelas horas, pelos dias, semanas e meses, que se tornam únicos. Quem não sabe do que estou falando deveria ler mais... deveria fazer como Antoine de Saint-Exupéry recomendou e ler "O Pequeno Príncipe" em três fases de sua vida.

A raposa é preguiçosa, tem os olhos cerrados, é do deserto e está certíssima em seus segredos, tanto que me confundi ao escolher qual deles gravar junto, de qualquer forma, não vou me esquecer de que me tornei responsável por aqueles que cativei, de que foi o tempo que dediquei a minha rosa que a fez tão especial, de que os rituais são necessários, mas daqueles diálogos dela, o que simplifica tudo é:

"O essencial é invisível aos olhos"... só se vê bem com o coração, em português de preferência, como a Vivi recomendou.

Posso dizer agora que, literalmente, sou meio raposa.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Em português


Foram três meses. Tentei guardar o texto, tentei não falar da coragem pela igorância... não consegui. Deixar desenhar-se é um processo e vem acompanhado dos pensamentos, nas horas que se passam em silêncio, no meu silêncio, do barulhinho da máquina e da dor.

E neste silêncio, que se desenrolava em horas psicológicas muito mais longas que as cronológicas, refleti sim, depois do anestésico... na verdade, no início, o que mais fiz foi xingar e depois de perceber o erro que vive em esbravejar num momento em que o corpo está todo concentrado em apenas um ato, agradeci, à la Seicho-No-Ie mesmo: "Muito obrigado, muito obrigado..." e passei pelo "Imagem verdadeira, harmonia e perfeição" também. 

Mas aí que a gente se acostuma a viver em qualquer contexto, o meu foi de dor, e nesse tempinho de pele espetada, pensei de alunos, diários, provas, médias, amigas, ex, xadrez até girafas no zoológico. 

Como ouvi das tatuadoras, da madrasta e das amigas "Mas você já se acostumou com essa dor, não?"

E guardei para mim a última conclusão dessas sessões: o humano não se acostuma a tudo não, até recortadamente ele se acomoda, mas, no caso da dor, não há ser que não fuja, que não se rebele e que não a queira sempre longe. A dor é sempre nova e sempre dói do mesmo jeito, por mais aceita e conhecida que já seja. Prova disso é o choro que derramamos em todas as mortes de queridos que vivemos, todos os namoros que rompemos, todas as dúvidas que passamos, cada tatuagem que fazemos.

Meu desenho completo não é para todos, inteiro mesmo é só para os íntimos, o que prova mais uma vez que o "essencial é invisível aos olhos".

terça-feira, 12 de julho de 2011

"Um risco, uma passo, um gesto..."


Expôr-se a tratamento de choque,
 ela pensou. 

Leu Redatoras de Merda,
comeu doce-de-leite,  
ouviu Litlle Joy, Paralamas e Apanhador Só. 
Falou mal de homens com a amiga... 
repensou parar de parar de tomar o controlador hormonal, 
escreveu... 
e teve uns dias em que chorou escondida. 
Pintou o cabelo, 
descoloriu-o e pintou de novo... 

conheceu homens, 
conheceu mulheres... 
perdeu a cronologia dos fatos. 

Hipotetizou. 

Pensou em voltar atrás... 

rezou por um futuro novo.

Depois de rasgada, dobrada e redobrada,
formou em pássaro, assim como o origami,
cansada.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Gosto de ficar ao sol, leãozinho. De molhar minha juba..."


Ando imaginando-me a andar pela areia molhada, bem a beira do mar, os pés afundando na areia lamacenta, gostosa, puxada pela água que vai embora e volta molhando minhas canelas.

Ando imaginando-me a mergulhar na água salgada, o nariz arrebitado e os olhos ardidos de sal. A onda quebrando, as vezes, antes que eu me restabeleça... o que me relembrará mais uma vez que sou totalmente do planalto central, nenhum hábito litorâneo.

Ando imaginando-me a sair das ondas, talvez a jogar um pouco de lama numa amiga e a caminhar até a areia fofa, branca... as canelas sujas de areia e o corpo impregnado de sal. A procurar uma ducha e perceber que a mais próxima está longe... então, ando imaginando-me, a tirar o sal com gelo ou água mineral. Ando imaginando-me a avermelhar as bochechas branquíssimas... a esfriar a pele na água e aquecê-la ao sol. Ando imaginando o cheirinho de Sundown!

Ando imaginando-me a sentir a maresia na descida para o litoral, na chegada à praia e ouvindo as ondas quebrarem ritmadas, da minha cama.

Ando imaginando-me a sentir o calor úmido do litoral, o cansaço do fim do dia, a vontade da noite. Não, não ando imaginando-me a catar conchinhas! Não tenho mais paciência para elas!

Ando imaginando os pôres-de-sol que posso ver, os cocos que posso beber, o sol que não posso pegar, os mergulhos que posso dar, os dias e as noites que quero passar, as marcas que posso ter.

Acho que o verão é na praia.

sexta-feira, 1 de julho de 2011