quinta-feira, 14 de julho de 2011

Em português


Foram três meses. Tentei guardar o texto, tentei não falar da coragem pela igorância... não consegui. Deixar desenhar-se é um processo e vem acompanhado dos pensamentos, nas horas que se passam em silêncio, no meu silêncio, do barulhinho da máquina e da dor.

E neste silêncio, que se desenrolava em horas psicológicas muito mais longas que as cronológicas, refleti sim, depois do anestésico... na verdade, no início, o que mais fiz foi xingar e depois de perceber o erro que vive em esbravejar num momento em que o corpo está todo concentrado em apenas um ato, agradeci, à la Seicho-No-Ie mesmo: "Muito obrigado, muito obrigado..." e passei pelo "Imagem verdadeira, harmonia e perfeição" também. 

Mas aí que a gente se acostuma a viver em qualquer contexto, o meu foi de dor, e nesse tempinho de pele espetada, pensei de alunos, diários, provas, médias, amigas, ex, xadrez até girafas no zoológico. 

Como ouvi das tatuadoras, da madrasta e das amigas "Mas você já se acostumou com essa dor, não?"

E guardei para mim a última conclusão dessas sessões: o humano não se acostuma a tudo não, até recortadamente ele se acomoda, mas, no caso da dor, não há ser que não fuja, que não se rebele e que não a queira sempre longe. A dor é sempre nova e sempre dói do mesmo jeito, por mais aceita e conhecida que já seja. Prova disso é o choro que derramamos em todas as mortes de queridos que vivemos, todos os namoros que rompemos, todas as dúvidas que passamos, cada tatuagem que fazemos.

Meu desenho completo não é para todos, inteiro mesmo é só para os íntimos, o que prova mais uma vez que o "essencial é invisível aos olhos".

2 comentários:

Carolina disse...

Que bom saber que sou íntima pra ver todas as tatuagens feitas em sua vida e poder ainda compartilhar as dores, as alegrias, as esperanças, as cicatrizes... enfim.

Que seja pra sempre!

Cláudio disse...

O último parágrafo desse texto, sozinho é um poema. Formate-o e veja como fica.