sexta-feira, 6 de junho de 2014

Salve um aluno.


Todos os dias eu vou trabalhar numa escola. Agora eu vou como coordenadora e nem sempre estou tão perto dos alunos como eu gostaria... mas estou lá atrás de cada um dos professores projetando formas de levar, à cada um daqueles meninos que nos foram confiados, o mundo dos centros culturais, da leitura, do sentimento, da amizade, do perdão, das percepções históricas, matemáticas, geográficas, políticas... 

Houve uma época em que eu estive ligada estritamente a Língua Portuguesa e eu tentava ampliar minha chegada o máximo possível ao mundo fora dos muros da escola e dentro também. Hoje eu faço isso um pouquinho em cada matéria... às vezes eu fico pensando em minha sala, e em casa, e na faculdade, e no carro, e nas viagens, e no banho, e na troca de roupa, como fazê-los perceber que as matérias estão no mundo. Sim, professor pensa seu trabalho o tempo todo.

E vez ou outra eu preciso, durante a semana, após o dia de trabalho, tomar uma cerveja com um amigo e fazê-lo ouvir meus desabafos sobre estritamente a minha escola e amplamente o sistema educacional... numas dessas eu acabo chorando, porque eu sou chorona. E chorona que sou, eu choro no banheiro pensando sobre tanta coisa que precisa ser feita... eu choro vendo vídeo de professor sendo agredido por aluno e choro de raiva assistindo jornal na hora do almoço que tira sempre toda razão da escola e do professor. Choro vendo aluno dando errado, dando certo e quando vão embora, porque terminaram as etapas.

Em todos esses momentos eu penso muito em continuar e penso muito em desistir. Quem trabalha com educação trabalha em equipe e às vezes se vê muito sozinho... é que o bombardeio vem de todos os lados. Todo mundo percebe que o sistema faliu, os alunos, os professores, os coordenadores, os diretores, os proprietários, os pais, quem já passou por uma escola sabe, tudo precisa ser mudado. E a gente está tentando todos os dias mudar e cada mínima mudança perceptível tem um pai pra tirar o filho da escola, um dedo apontado, uma secretaria da educação pra pressionar, um aluno pra não querer participar porque o importante mesmo é passar no vestibular e agora no ENEM.

Eu quero, e neste aspecto eu digo com conhecimento empírico, porque eu cresci na parte de dentro de uma escola, como aluna e como filha de professor e diretor, é um mundo onde as pessoas saibam criticar com propriedade e queiram colaborar. Por aí temos dezenas de pessoas a criticar tudo que fazemos e temos quantas dispostas a se responsabilizar completamente pela educação do próprio ente? A colaborar com a escola? O que eu vejo desde os 11 anos é uma porção de pessoas que mal pagam uma mensalidade, entregam seus filhos na porta da escola e se dispõem a execrar todos os defeitos da educação, a questionar o professor pelo mal desenvolvimento do filho, a responsabilizar a instituição escolar por todo fracasso e vez ou outra pelo sucesso ou nas instâncias públicas: a colocar a culpa no Estado. 

A rede pública tem professores faltosos porque, fora o salário, o professor não tem aparato dos pais, incentivo dos alunos, tão pouco do governo. Eu confabulo: se assumíssemos, cada um de nós, nossa devida responsabilidade, os governos sambariam como sambam em nossas caras tão descaradamente? O que ocorre rotineiramente é: Se o estudante fracassar a escola é ruim e a culpa é do professor, se vencer é pelo que ele recebe de preparo em casa e conseguiu por conta do que ele mesmo já é. Se ele bombar: processo no colégio, se ele for excelente: cadê nossa bolsa de estudos? Será que não dá para perceber que o trabalho é mútuo?

Existe uma nova  (se não já antiga) demanda social que é a de educar para a vida, as mães e os pais estão em seus empregos e alguém precisa fazer o serviço educativo, mas isso é um trabalho em conjunto e que, me desculpe quem o recusa (e eu compreendo muito bem), já está aí.

Eu, como professora há 8 anos, formada, coordenadora pedagógica (Isso deve valer de alguma coisa, não é possível) estou disposta a mudar esse sistema falido, eu e uma série de amigos e suas escolas (Apesar de que muitas somente se beneficiam da produção em série). Porém, nós, sozinhos e enxovalhados de ofensas à instituição como um todo (Nos jornais, no dia-a-dia, nas bocas, nos facebooks, instagrans, youtubes, whatsapps, blá, blá, blá), vamos conseguir com muito mais lentidão.

Mesmo que este texto esteja chorando mágoas, o meu cotidiano entre alunos é construído com risadas. Entre alunos, entre professores, entre secretaria. Nós trabalhamos todos para esse trabalho valer de algo e o fazemos de modo a ter sentido. Penso que todo aquele que não vê sentido na escola, deveria ajudar-nos a repensá-la e arregaçar as mangas, pois, como eu disse ainda esta semana para a mãe de uma aluna: As críticas precisam ser trazidas o quanto antes para que possamos resolver os problemas, caso contrário não é crítica, é apenas reclamação... e resmungo, sinceramente, não ajuda em nada.

Nenhum comentário: