terça-feira, 10 de abril de 2012

Nikk - O inglesinho do Brasil.

                                 

De dias tão corridos, me marcou a seguinte frase que ouvi no domingo: "Mantenha sempre o espírito infantil" - "Opaaa! Isso é fácil" e também, não sei porque, criança sempre dá um jeito de grudar em mim.

Então depois de uma noite sem dormir desde às cinco do dia anterior, revirada dentro de um micro-ônibus e voltando do trabalho às  quatro da tarde com um sol de fritar ovo no asfalto, materiais de aula na mão, dedoches, boneca, um frango morto congelado (sim!) que a esposa do avô mandou pra mamis, dou de cara com a porta de casa e a chave roubada da minha bolsa pelo irmão, o que me fazia prever a escada até que alguém aparecesse. 

Procurei então o celular na bolsa, lembrei que o tinha esquecido na cama. Respirei fundo, me lembrei: "Conservar sempre o sentimento natural, espírito infantil, espírito infantil...", juntei todas as minhas coisas e avante orelhão, não lembrava o telefone de ninguém, meu pai fez o favor de deixar o celular dele submergir em águas cristalinas de novo (dessa vez não foi no vaso pelo menos), os irmãos estavam todos no campus da Federal, ou seja, aonde judas perdeu as pernas e eu em frente ao meu prédio, sem a chave da porta, com uma galinha morta e quase descongelada, um bauzinho, uma boneca laranja que ganhei, livros e redações nos braços. 

Olhei para aquilo tudo com tanta vontade de xingar até minha última geração: "Sentimento natural é o caralho, que se foda o espírito infantil, vou quebrar aquela porta!!"... daí aquela voz irritante e moralista sempre vem pra buzinar no meu ouvido como nossos conceitos não devem modificar conforme as circunstâncias, "Cadê toda aquela convicção positiva, Dona Lílian?". Fiquei com vergoinha de mim, pedi pro universo então encaminhar as coisas da melhor forma e dispus-me a passar sei lá quanto tempo na escada, com a galinha morta descongelada, porém calma (Cara, eu tava putaaa!!).

Daí que entrando pras escadas, um menininho inglês brasileiro, de 7 anos, se interessou pela minha boneca laranja e pelos meus dedoches, não satisfeito quis subir até minha porta comigo e brincar com todas as minhas coisas (menos a galinha morta que eu não quis mostrar) e curioso, quis saber de mim, quem era minha família, se eu tinha ido pro Japão e ficou ali me fazendo companhia, impressionado com o pirulito que explode na boca que eu dei pra ele, parava e falava: "Rensga, é normal fazer barulho?", "É", "Explode assim mesmo?", "Aham!!", "Nooooooossa!! Isso é muito legal"... entrei pra casa sabendo tudo sobre Ben 10 e o seu relógio Omnitrix  e morrendo de rir do Nikk dizendo que meus óculos parecem de velho, mas que são fera. 

Em um determinado momento, tirou duas balinhas do bolso, morango extra ácido que ele recomendou chupar depois de beber leite pra ficar mais ruim ainda (ele garante que é mais legal), e falou "Você já bebeu leite hoje?", "Não, Nikk", "Você gosta de leite?", "Gosto muito com Quikk", "Toma!", abrimos as balinhas e depois de caretas e risos, ele falou "Eita, que sorte que eu tinha essas balinhas, se não você ia ficar com muita fome aqui sozinha", depois fiquei me perguntando se não me formou uma lagriminha com tanta delicadeza, que anjinho mais maravilhoso, mal sabia ele que eu tinha uma galinha.

Ele também descobriu minha câmera na bolsa que ele remexeu, então de repente a Vívian chegou em casa com a chave da pátria, a gente tirando foto no corredor, mas o Nikk é tão massa que quis entrar pra comer Bis, escrever no meu quadro e ganhar o Poupançudo da Caixa que a Vivi deu pra ele. E como eu não queria passar por pedófila sequestradora de filhos alheios, levei-o até seu apartamento, entreguei suas fotos e pedi autorização pra sua mãe para usá-las, ela assentiu morrendo de rir da boca melecada de açúcar explodidor nas bochechas dele. 

Essa foi a maior surra de chicote que já levei do universo: "Conservar sempre o sentimento infantil, sim, e ser sempre espontânea e feliz com as circunstâncias, o universo colabora com quem se deixa colaborar", renascer no mês do nascimento é de se lisonjear, Poliana existe.



Um comentário:

Ana Paula Rosa disse...

Fico feliz que O (com letra maiúscula e a Vivi sabe porque) tenha feito a alegria de mais uma criança. Isso é importante! E realmente o universo encaminhou as coisas da melhor forma possível.