quinta-feira, 9 de junho de 2011

Entre mentes.


Sentei-me na cama ontem a noite. Minha cama é dessas que se senta e afunda... mais parece ela um abraço. Ontem minha cama abraçou minhas pernas.

Pés sobrepostos um a cima do outro, apenas nas pontas, o corpo sentado sobre as panturrilhas, quase como uma judoca. As mãos justapostas de forma triangular a uma distância de três polegares do nariz, os joelhos dispostos a distância de dois punhos, os olhos levemente fechados, o olhar para cima e a coluna ereta. Meditei.

Algumas situações eu, confesso, evito. Evitei durante muitos dias meditar e me perguntar quem sou eu e principalmente evitei meditar em prol da minha verdadeira felicidade, mas algumas coisas são inevitáveis. A verdadeira felicidade por exemplo, tenho medo dela, mas ela vai chegar. E acreditem, isso não faz parte apenas dos sete meses que se antecederam a este texto... 

Parece estranho falar em medo da verdadeira felicidade, mas este medo existe sim, principalmente quando se está gostando do que está vivendo, mas sabe que o que está acontecendo não preenche o seu eu mais íntimo e sabe que meditar é acordar aquela raposa que existe dentro de nós adormecida e de repente quer acordar aos grunhidos mais fortes... por isso estou a mantê-la durante tanto tempo pelas costas... o paralelo é que em mim, ela está cada dia mais viva, mais colorida e não estou falando da minha tatuagem. Algo em mim quer ser cativado, mas algo em mim tem medo e muitas coisas por aqui ainda não tem valor, o trigo por exemplo para mim, não significa nada... mas...

Enfim... resumo aqui todo o significado que tem na minha vida o ato de meditar.

Meus pés, na cama quente, logo começaram uma dança de pontinhos piscantes internos, pequenas formiguinhas... choques sem força, que logo se tornam dormência e logo se tornam nada. De meditar gosto de tudo: gosto da paz, gosto dos pés formigando, gosto da tensão no braço, gosto do domínio do corpo pela mente, gosto dos pensamentos que jorram... dos pequenos ruídos que ouço e normalmente não percebo dos outros apartamentos, amo o silêncio e amo me encontrar ali quieta, pronta para conversar e ouvir o que há de vontade mais íntima aqui.

É por isso que faço o shinsokan (algo como contemplar Deus no/pelo pensamento) na forma mais original que posso. Se amo sashimi, guioza, hashis, kimonos, barcas, hot holls, sake (=P), e todo diabo a quatro que envolve a cultura japonesa... se nasci com os olhos puxadinhos numa vida goiana totalmente ocidental e amo o oriente. Se neste planalto central do Brasil, nasci numa família que segue uma religião Seicho-No-Ie, então meditar eu também gosto é em japa! Nada de cadeirinha.

Me sinto menos convicta das atitudes a tomar do que nunca, mas me sinto mais pronta do que nunca para aceitar o que é meu e espera há tanto pela palavra de ordem "Venha".

Foi por isso que hoje acordei pensando que a ideia é uma semente plantada. Vejamos a colheita!

2 comentários:

Carolina disse...

Achei lindo! Melhor ainda é saber que hoje de manhã você me disse quase que isso tudo aí. E como eu te disse nesta mesma manhã, a-pro-ve-i-te! A verdadeira felicidade assusta, porque acreditamos na doce ilusão do "se melhorar estraga". Mas não acredite nisso, pois sempre podemos nos fazer melhor principalmente quando algo ou alguém chega e participa.

Estarei aqui, sempre!

Kendi disse...

Olha só! Eu estava precisando ler algo assim. As nossas experiências podem inspirar o próximo. Seu texto me provocou. O dia de hoje estava pedindo por uma reflexão. Muito obrigado pelo seu texto!
;)