domingo, 30 de março de 2014

Agora é hora de você



Ela é a menina que precisa esperar, já percebi. Cada dia se vê mais a margem do que planejou para si e apesar de desistir diariamente, por empirismo, dos poucos pedaços românticos que lhe restam, ela continua não abrindo mão de suas teorias idealistas... é que ela entende a rigidez do mundo, mas vive a esperança no universo.

Eu só acho estranho que as coisas aconteçam assim, tanta demora, tanta pedra no meio do caminho, tantos castelos de areia. Mas ela, ela entende que o organismo vivo ao qual ela pertence tem seu tempo e que tudo se explica quando acontece.

Ela lembra de uma fábula budista que conta de um viajante perdido no deserto e que encontra um palácio farto de água e alimentos. O viajante irá morrer em poucos instantes, mas aquele castelo no meio do nada lhe nutre e conforta e ele não falece. Mas aí que depois de bem cuidado, quando acorda, o viajante se dá conta que o castelo sumiu. Ela não lembra o nome dessa história, ela também não sabe ao certo se é budista... Mas ela pensa sobre os inúmeros castelos que já lhe apareceram e já lhe foram, ela os nomeia de castelos de areia. Ela caminha seu caminho, e nesse seu caminho muito particular e verossímil dentro de sua pele, ela espera pelo palácio de pedra.

Sim, ela aguarda o palácio de pedra para pertencer, aquele que continue. Ela se recusa a procurá-lo, ela vai caminhar pelo deserto, sozinha e independente como uma boa raposa, vai caçar todas suas galinhas e roubar todos seus quintais, vai levar consigo tudo que puder, e perder também, dos castelos de areia que a enganarem para que ela sobreviva. Traz consigo as marcas desses castelos que se foram nas pequenas dispersões e agora já não os adentra sem cautela. Ela é parte do que os tornou justamente interessantes... E ela será encontrada pelo seu, porque como eu disse, ela renuncia a procura direta, mas não nega os encontros improváveis.

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