Ela é a menina que precisa esperar, já percebi. Cada dia se vê mais a margem do que planejou para si e apesar de desistir diariamente, por empirismo, dos poucos pedaços românticos que lhe restam, ela continua não abrindo mão de suas teorias idealistas... é que ela entende a rigidez do mundo, mas vive a esperança no universo.
Eu só acho estranho que as coisas aconteçam assim, tanta
demora, tanta pedra no meio do caminho, tantos castelos de areia. Mas ela, ela
entende que o organismo vivo ao qual ela pertence tem seu tempo e que tudo se
explica quando acontece.
Ela lembra de uma fábula budista que conta de um viajante
perdido no deserto e que encontra um palácio farto de água e alimentos. O
viajante irá morrer em poucos instantes, mas aquele castelo no meio do nada lhe
nutre e conforta e ele não falece. Mas aí que depois de bem cuidado, quando
acorda, o viajante se dá conta que o castelo sumiu. Ela não lembra o nome dessa
história, ela também não sabe ao certo se é budista... Mas ela pensa sobre os
inúmeros castelos que já lhe apareceram e já lhe foram, ela os nomeia de castelos
de areia. Ela caminha seu caminho, e nesse seu caminho muito particular e
verossímil dentro de sua pele, ela espera pelo palácio de pedra.
Sim, ela aguarda o palácio de pedra para pertencer, aquele que continue. Ela se recusa a
procurá-lo, ela vai caminhar pelo deserto, sozinha e independente como uma boa
raposa, vai caçar todas suas galinhas e roubar todos seus quintais, vai levar
consigo tudo que puder, e perder também, dos castelos de areia que a enganarem
para que ela sobreviva. Traz consigo as marcas desses castelos que se foram nas pequenas dispersões e agora já não os adentra sem cautela. Ela é parte do que os tornou justamente interessantes... E ela será encontrada pelo seu, porque como eu
disse, ela renuncia a procura direta, mas não nega os encontros improváveis.
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