terça-feira, 14 de maio de 2013

Que cereja também tem um pouco de morango



Às vezes me dou conta que muitas pessoas que idealizei em certo período sumiram, vez ou outra as encontro na rua e percebo, tristemente, que aqueles seres que conheci lá num passado que nem é longínquo, morreram, não existem mais e não existe mais nenhum encaixe (meu?) com o ser anterior. Daí o poder do tempo do universo sobre as existências ínfimas.

Quando vejo fotos minhas ou filmes caseiros aos 5 anos de idade, percebo sim que existe qualquer essência abstrata e particular naquele invólucro infantil que perdura... mas será que aquela pessoa ainda vive? Eu sou aquela criança da foto no pátio da escola ou aquela imagem não revela o ser de agora? O ser de ontem revela ainda o ser de hoje? ...

Eu não sei se acredito em mudanças, penso mais em acentuação... acentuamos, agravamos o que sempre fomos, não é que ele mudou, é que ele sempre foi assim e aumentando. Aumentando tanto que morreu e nem percebeu. Ou então nem foi aumento, foi só falta de percepção minha, eu que fechei os olhos para os sinais que sempre me deram de quem eram e me fiz vítima surpresa só de mim.

O bem que vive no mal, o mal que vive no bem e a ponderação de seus pólos, o magnetismo que piora, ou melhora, simplesmente acentua cada lado.

Tinha cinco anos e estava observando alguns morangos que nasciam no jardim de casa, era abril e meu aniversário se aproximava, contemplei o céu limpo, azul e era manhã, ouvi, ou pensei, enfim, senti nos pensamentos a certeza de que "Lili, você nasceu para ser grandiosa! Fará nesse mundo qualquer coisa que ninguém fez", é... usaram futuro do presente do indicativo, bem... eu não fiz nada ainda... talvez eu nunca faça, mas essa lembrança é meu elo com o passado, quem sabe eu sempre existi, quem sabe pelo que se passa nas mentes eu nunca morra? Ora, de qualquer modo, eu lembro o que pensava naquela foto do pátio.

2 comentários:

Cláudio disse...

Por comparação, pensamos mesmo que fazer algo grandioso seja algo que ninguém fez. Ledo engano. A grandiosidade está em fazer algo que ainda não fizemos. Ah, há de se entender a vida presente como mais uma etapa da vida sem começo e sem fim. Quantas vezes ao longo de nossa(s)existência(s)fomos bons? Ser bom é ser grandioso e se não fomos ainda, ser bom pela primeira vez é fazer algo grandioso. Se já o fomos antes, ser melhor ainda é ainda mais grandioso. E isso não implica em reconhecimento popular, implica em crescimento pessoal. Se um dia impedimos as pessoas de crescerem intelectualmente ou moralmente ou espiritualmente e passamos a contribuir com o crescimento delas, fazemos algo grandioso, algo que ninguém fez, pois somente nós poderíamos fazê-lo. A idéia de MELHOR AINDA também se aplica a isto. Vejo em você um ápice da educação, uma professora que rompe paradigmas o tempo inteiro, que surpreende nas maiores obviedades, alguém a quem eu gostaria de ter tido meus filhos educados por ela. Aliás, tenho. O Lucca está sob seus cuidados intelectivos desde o sexto ano. Será que é por isso que ele é o mais aplicado? Sê por inteiro, nada exagera ou exclui.

Cláudio disse...

Ontem recebi uma carta da minha avó. A carta me deixou tão intrigado a cerca das coisas grandiosas. Vovó nasceu na roça e lá viveu até os 72 anos. Foi uma mulher típica da roça, de vidinha tipicamente roceira. Um cascavel foi o veículo que a levou de volta, há 31 anos atrás. Eu pensava que ela não tivesse feito nada de grandioso. Você não imagina como era gostoso o abraço dela. Na carta ela disse que cresceu tanto nessa existência e que sempre ora por nós. Pediu para que lembremos que todo tormento passa.