Eu
ia deixar pra escrever este texto depois que eu começasse a namorar... Porque,
no caso deste aqui, namorar seria um respaldo para minha teoria e, mais, seria
aquele suspiro final, que o autor dá uma esperancinha pro coração da gente, uma
moralzinha, do tipo: Calma! Você vai se dar muito mal, mas no fim vai encontrar
alguém legal... Bem, sinto dizer: Acho que no final, vai ser só fim mesmo, pelo
menos pra este texto aqui.
Outra
ressalva necessária para esta leitura é: Às vezes alguém compartilha os textos
da Cereja e me intriga alguns comentários do tipo “Quem essa moça pensa que é”,
então, neste discurso de autoridade de nossa sociedade meritocrata, gostaria de
execrar meu vasto curriculum lattes de autoridade superior que sou phD, a arte
do fora:
1989
– 2000: Gostei de 300 meninos que não gostavam de mim porque meu pai mandava
cortar meu cabelo chanel, enquanto todas as minhas coleguinhas tinham o cabelo
arrastando na quadra da escola (Sim, ele usou uma ótima tática). Isso era muito
chato quando todo mundo ganhava ursinho e chocolate secreto no dia dos
namorados, menos eu.
2001:
O primeiro fora a gente nunca esquece. Eu nunca tinha nem beijado na boca e com
11 anos me convenceram a pedir pra ficar com um menino de Brasília, eu estava
presa num encontro de igreja, ele me deu um “Não” até educado “É que eu já
estou ficando com outra”, ele tinha 12 e eu tive que encará-lo durante mais 3
dias, massa demais! Há boatos hoje que ele virou um travesti (Juro!).
Ocorre
que depois dessa eu decidi que nunca mais tomaria iniciativa com ninguém e
assim o fiz, acabou o texto. Mentira! Porque o fora ele não precisa ser
verbalizado, o fora não é só a negativa que você recebe pela fala da boca que
você quer que te beije, o fora também vem implícito, ele é a recusa, pode ser a
simples não correspondência e ele dá uns tapinhas no nosso ego ferido.
2002:
O primeiro beijo. Pode até ter gente que diz que não lembra essas coisas... Eu
não vou dizer na cara desse pessoal que eles são uns mentirosos, mas... sei
não, hein!? Eu tinha 13 anos, fui a uma festa e tinha um menino lá que queria
me pegar, uma menina que havia estudado comigo chegou em mim pra ele, ele não
era lá essas coisas, tinha um cabelinho de cuia loiro e eu achei isso meio
brega, mas vá, vamos acabar com isso logo. Fui lá na árvore, o beijei e saí.
Cheguei em casa, bochechei bastante Coca-Cola (Porque, se desentope até a pia,
ia tirar aquela saliva nojenta, daquela língua grossa e aqueles dentes cheios
de aparelho dele), espremi metade do Colgate na boca (Mentira, era Collinus),
escovei os dentes por 10 minutos pra esquecer aquilo tudo, não adiantou e eu
tive a séria impressão que o cheiro dele tinha impregnado em mim.
2003:
Acho que nessa época meu cabelo cresceu, eu tinha dado uns beijinhos, abri a
porteira pra olharem pra mim e meus seios eram maiores que o das meninas das
minhas turmas, isso era um ponto a mais, na verdade dois pontos a mais: OO.
2004:
O primeiro namoradinho. Terminou comigo 7 meses depois, eu achei que ia morrer,
o mundo tinha acabado, a vida não fazia sentido, acho que vou lá pista de gelo
do Shopping andar de patins, nossa que cara gatinho, vou pegar ele, vou olhar
até ele vir falar comigo, oi tudo bem, prazer, ficamos alguns dias, descobri
que ele fumava maconha, achei muito pesado pra mim, parei de atender o celular,
naquela época as pessoas se ligavam, o encontrei um dia no shopping: “Sumiu,
uai!”... “Pois é... o tempo tá corrido”... “Mas estamos de férias”... “É...
pois é... Falou, valeu”.
Acho
necessário contar aqui que esse foi o momento em que comecei a dar fora ao
invés de levar, mas antes quando eu fazia a 5ª série, um garoto chamado Adriano
subiu na carteira da sala e gritou que estava apaixonado por mim, eu me escondi
dentro da lixeira e fiz um vudu pra ele morrer, mas não deu certo. Também houve
alguns casos recortados, como o de um outro menino que quis namorar comigo
depois que a gente deu uns beijinhos... Aí eu entro no caso da situação:
A
situação é o que faz a gente ficar a fim de alguém, mais do que a própria
pessoa. Tanto que as vezes a gente convive anos com alguém e não se toca que
essa é a pessoa da nossa vida, aí uma situação qualquer se forma e faz a gente
perceber que tem magia alí. Esse garoto eu beijei dentro da sala de aula, levei
advertência por causa dele, aí brochei. Ainda mais que na minha cabeça, ficar
era só uma vez. Depois que eu fui entender a dinâmica da coisa e também eu não
queria namorar com 13 anos, não com ele.
2005
– 2009: Moço! Tive um namoro tão longo que quase casei. Começou a conversa de
financiamento de casa na Caixa, e eu não sei porque, esse programa “Minha casa,
minha vida”, chega me arrepia os pêlos de repulsa... aí eu comecei a pensar em
terminar, terminei e eu não sabia fazer isso, fiz da forma mais grosseira
possível pra ver se ele entendia que tinha que sair da minha vida. Coisa de
gente imatura. A gente aprende mais tarde a respeitar os sentimentos alheios.
Aliás sobre sentimentos alheios:
Hoje
entendo que quando alguém se interessa pela gente, claro que existe a situação
construída, mas tem uma parte disso que é completamente culpa nossa, a gente
que se constrói interessante e seduz espontaneamente o outro. Não há
necessidade de correspondência, mas sempre há a necessidade de respeito ao
próximo, principalmente a esse próximo que percebeu algum tipo de beleza em
nós, desde que ele também faça isso com respeito, caso contrário, mão verbal na
cara.
2009
– 2011: Apaixonei por um menino de outro estado. Descobri que namoro a
distância não existe.
2012
– ad infinitum: O mundo acabou e acho que na cota foi qualquer possível
namorado, aí então resolvi passar o rodo na comunidade gayânia. Depois arrumei
uns rolinhos vários e no final tudo sempre mirra, por mim ou pelo outro.
2014:
Eu nunca passei um ano em que me envolvi tanto com quem fiquei. E foi um de
cada vez e muito. Tenho amigas (e mil amigos) que ficam com várias pessoas numa
cadeia alimentar de importância que vai da mera comidinha a quem eu largo tudo
pra ficar (E normalmente esse alguém o coloca como mera comidinha), mas eu não
dou conta de fazer isso. E o meu não dar conta beira o patamar de nem tentar,
não me interessa fragmentar meus sentimentos, misturar os gostos. E isso pode durar
uma semana, um mês, meses ou anos. Mas 2014 foi o ano em que comecei trocentos
romancezinhos que miaram, por mim, ou pelo outro e todos ótimos, só que sem
nenhum grand finale, tudo na base do esfriando.
Posso
fazer uma analogia da forma como como no prato: Eu coloco o arroz separado, o
feijão separado e cada mistura (é assim que a minha mãe chama) numa posição
separada, aí saboreio cada um, sentindo o gosto individual, até terminar o
prato. Eu nunca gostei de pegar o garfo e dar aquela batida na comida toda, é
assim que eu faço na vida: Quando fico com alguém fico só com ele, saboreando,
mesmo que aquele mexido na panela seja uma delícia (mas não quero entrar agora
na pauta de suruba), porém acho que tô mastigando demais, saboreando demais, a
comida gela e eu não gosto de comida fria.
Daí
que 2014 foi o ano dos foras. Inclusive, quero deixar claro aqui: Estou cansada
de dar e levar foras. Que dinamicazinha chata, gente! E todas elas acabam com
meu ego. Porque numa eu fico me sentido uma titica de galinha e no outro eu
fico me sentindo uma sem noção. Esta parte deste texto (Que eu sei, está muito
grande, já vou finalizar), vou dividir em duas.
Sobre
foras I – Dar fora: Quando você é adolescente e começa a ir pra balada, é muito
legal dar fora, isso eleva a autoestima. Até depois de adulto, quando a gente
vai pra balada e não dá nenhum fora, volta meio triste, se sentindo feio,
certo!? Errado! Eu passei a tratar com a maior educação quem chega em mim em
qualquer lugar, porque a pessoa já tomou toda a coragem de dar a cara a tapa e
ainda vou eu, somente pelo fato de o outro ver encanto em mim, ser rude? Non,
non, non. E existe toda uma postura que se adota, mesmo na balada. As pessoas
sabem quando você está praquilo ou não, então a coisa mais normal que existe é
ninguém chegar em você, oras! Ser/estar feia é um caso preocupante se isso
acontecer em frente a uma obra, somente!
Existe
um caso complicado: Quando você já explicou pra pessoa que não rola, quando
você já deu indícios disso e a encrenca continua te chamando e insistindo pra
sair. Aí você sai, não pra ficar, mas pela insistência e como já, inclusive,
deu todos os indícios de que “Desculpa, mas hoje é não”, você vai, aí dá o fora
dos foras e fica se sentindo uma sem noção. Cara! Sinceramente! Vai tomar no cu
você que me expõe a este tipo de situação! Vai tomar no cu duas vezes você que depois
ainda sai falando que eu fiz cu-doce, desculpa aí! Você que é burro!
E
existe uma situação meio-termo que é a mais recorrente de todas: O cara do
demorou cair a ficha. A menina é a mais bonitinha, é engraçada, bebe com o cara
se ele bebe, fuma com o cara se ele fuma, vê filme legal, conversa coisas
interessantes, tudo isso ela faz só porque gosta também, ou seja, ela é espontaneamente
phoda. Fica disponível pra ele, mas também tem seu tempo individual pra fazer
as suas coisas particulares e o filho de mãe só esnoba.
Aí
você desiste, “Chega!”, segue a vida, conhece outras pessoas, finalmente se
desvincula do outro, enterra a esperança, parte pro próximo, supera. E o cara
larga o alcoolismo, muda da casa do pai, separa da esposa, compra um carro e
começa a te chamar pra sair no whatsapp, facebook, e-mail, a bater na sua casa,
A TE TELEFONAR! A curtir suas fotos, perguntar sobre você. Véi! Qual o problema
dessa gente que espera a onda passar? Esse é o que eu chamo de fora torto. Isso
é o que me faz pensar: Fui espontânea demais e o mundo não sabe lidar com isso,
as pessoas gostam de gente que faz joguinho de atenção. Eu não sou essa parte
da população. Maaaas... você simplesmente não vai encontrar ninguém que assuma
que faz isso, pelo contrário, todo mundo está aí se perguntando: Onde estão as
pessoas normais? Enfim, o cara passa a ser espontâneo e isto teria sido super
legal há um mês atrás. Este fora eu não vou dizer que é de todo ruim dar, porque
é quase uma revanche, mas dá uma sensação de “Até quando, SEM OR!?”.
E
essa sensação de fracasso do fora torto é meramente por uma coisa, o fora quem
levou primeiro foi você, dessa mesma pessoa que você agora está recusando. E
esse fora que você levou primeiro é o pior de todos:
Sobre
levar fora II: 1) O esquecimento: Esse é o tipo de fora que eu tenho mais
raiva, o que mais me faz sentir que sou um cocô. Porque você conversa com a
pessoa todo dia, sai com ela toda semana, pensa nela, ouve música lembrando
algumas coisas... pra no final das contas, ele sumir. Não mandar mais nada e
quando você manda alguma coisa, dar aquelas respostinhas michas, um hahaha aqui
um uhum acolá. Eles vão fazendo tanto isso que você vai se irritando. Aí começa
a dar bolo e insinuar de todos os modos indiretos e sem explicação direta pra
você que não rola mais. Quando isso acontece a primeira vez, você demora sacar,
mas o próximo “Uhm” vira a sirene de uma ambulância de “VAZA!”. Aí eu aprendi a
vazar, mas eu vazo me sentindo uma titica de galinha que precisa entender
sozinha o que aconteceu, mesmo que seja só: “Já te comi o suficiente” e ele
nunca mais manda nada, te encontra na rua e sorri amarelo, maldito!
2)
O direto: Oi, Lilian, eu sei que por whatsapp não é o melhor jeito, mas a gente
começou por aqui, acho que dá pra terminar por aqui. Na verdade acho que não
rola a gente ficar mais... tô sem tempo pra me dedicar a alguém e ainda gosto
da minha ex, você é massa, mas acho que agora não é o momento pra me envolver e
vamos convir que você bebe demais, eu gosto mesmo é de cocaína. Boa sorte aí. –
PERFEITO! Ele até foi sincero, mas prezou pela educação, todo o multiverso
podia ser assim, melhor só se ele tivesse a coragem de falar isso na minha cara
depois de pagar um japa, e claro que isso é coisa de mulher, sorry, homem não
faz isso nunca.
3)
O fora graças a Deus: Aquele que você não sabe como dar o fora em alguém que
daria tão certo com você, não fosse a falta de química. Aquele que a gente tem
certeza que é a natureza de zoeira com a nossa cara, o destino falando: “A vida
é muito mais que combinação de gostos racionais, você tem que se lembrar da
biologia”. Aquele que você leva em banho-maria pra ver se melhora ou aparece
alguém melhor e te impulsione a dar o fora, mas aí o outro faz isso primeiro,
antes que você, te tira essa carga e você até dá um abraço de “Obrigada!”.
Portanto,
depois de um tempo você aprende a dar fora sem até que a pessoa perceba que
você que deu, ela sai feliz pensando que ela que saiu por cima. E também para
de se importar com o fato de que talvez você ganhe um toco, porque fora o risco
do toco, há o risco do aceite.
Desses
aí eu tive todos este ano, chutei e fui chutada. Ora, mas não só de foras se
vive a vida. Sempre existe um lado positivo. O ano ainda não acabou e eu tenho
a minha tese: O bom do fora, levado ou dado, é que ele sempre precede um
próximo romance, que vai que é o correspondido totalmente!? Sim, eu faço a
linha criança esperança, não terminei esse texto dizendo que sou graduada
doctor master blaster e tenho um namorado que prova que eu tô certa, mas tô aí
na atividade de pesquisa de campo.
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